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08 de dezembro de 2010 | 19h46
O autismo é uma disfunção global de desenvolvimento, que afeta a capacidade de comunicação e resposta apropriada ao ambiente.
Pesquisadores da Eastern Virginia Medical School identificaram uma possível nova estratégia de tratamento para o comprometimento social em pessoas com a desordem de espectro autista. Um remédio desenvolvido para tratar a tuberculose transforma ratos antissociais em ratos que interagem com outros.
“Pessoas com a desordem de espectro autista são tanto desinteressadas em relação a interações sociais ou as consideram desagradáveis”, explica Stephen Deutsch, professor de psiquiatria e ciências do comportamento. “Infelizmente, pessoas com a desordem de espectro autista são muitas vezes sofredoras conscientes de sua sociabilidade limitada, o que pode levar a profundos sentimentos de tristeza e frustração”.
Na pesquisa, os cientistas verificam que uma cepa específica de ratos em um modelo válido de sociabilidade limitada – semelhante ao de pessoas com autismo – passava o mais longe possível de outros ratos, não interagindo como animais do grupo de controle faziam. Então, os pesquisadores resolveram testar se um medicamento já existente poderia alterar a função de determinados receptores do cérebro que afetam a sociabilidade: a D-cicloserina, originalmente desenvolvida para tratar a tuberculose mas que, ao longo de testes, mostrou ser capaz de mudar o comportamento social de indivíduos.
Em estudos preliminares, a medicação pareceu ter resolvido os déficits de sociabilidade de ratos “com autismo”. Os animais que receberam o tratamento passaram a ficar perto de outros. Isso deu à equipe a oportunidade de sugerir que talvez a terapia pudesse ser usada para facilitar também a sociabilidade em pessoas com autismo, que evitam tanto o contato visual e físico, como a interação.
Estes indivíduos podem ter a vida muito limitada, especialmente na questão “emprego”.“O que torna isso importante é que pode haver alguém com um QI de 125 ou 130 que está desempregado por causa de suas deficiências sociais”, ressalta Maria Urbano, também uma professora associada de psiquiatria e ciências do comportamento.
A equipe planeja agora um ensaio clínico piloto em pacientes adultos, adolescentes e crianças com autismo para avaliar a forma como o medicamento age em seres humanos. Já se sabe que a droga é segura. Portanto, pesquisadores devem agora observar se há efeitos similares sobre déficits de sociabilidade como ocorrido nos ratos.
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