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Estudo encontra zika no cérebro de bebê abortado na Eslovênia

Mulher europeia de 25 anos engravidou no Brasil e teve sintomas de zika no final do primeiro trimestre de gestação. Microcefalia só foi detectada na 29.ª semana, e ela optou por interromper a gravidez. Estudo confirma que o vírus zika pode infectar o cérebro de fetos e é o provável responsável pela má-formação.

Por Herton Escobar
Atualização:
 Foto: Estadão

Pesquisadores na Eslovênia encontraram o vírus zika no cérebro de um bebê abortado com microcefalia cuja mãe engravidou no Brasil. A mulher, de 25 anos, optou por interromper a gravidez com 32 semanas de gestação, após uma ultrassonografia confirmar a existência da má-formação, e autorizou a realização do estudo. A pesquisa foi realizada na Universidade de Ljubljana e publicada ontem no site da revista médica americana The New England Journal of Medicine.

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Os resultados confirmam que o zika vírus pode infectar o cérebro de fetos e reforça a hipótese de que ele é o responsável pelo aumento explosivo do número de bebês nascidos com microcefalia no Brasil. Segundo o relato dos pesquisadores, a paciente era uma mulher europeia que estava fazendo trabalho voluntário em Natal (RN) desde dezembro de 2013. Ela engravidou no final de fevereiro de 2015 e apresentou sintomas de zika -- febre alta, manchas vermelhas, coceira, dores nos olhos e musculares -- três meses depois. Exames de ultrassonografia realizados na 14.ª e 20.ª semana de gestação não revelaram nenhum problema. O desenvolvimento do feto, até então, era normal.

Leia também: Novos estudos confirmam elo entre zika e microcefalia

Com 28 semanas de gestação, a paciente retornou para a Europa e passou por novos exames. Na 29.ª semana, uma ultrassonografia identificou os primeiros sinais de anomalia; e quatro semanas depois, o diagnóstico de microcefalia foi confirmado. A circunferência craniana do feto era de 26 centímetros. Após o aborto, os médicos fizeram uma autópsia da criança e encontraram várias anomalias no cérebro: Além do tamanho reduzido, havia vários pontos de calcificação, ausência de dobras e acúmulo de líquido no órgão. A presença do vírus no tecido cerebral foi confirmada por análises genéticas (técnica de PCR) e imagens de microscopia eletrônica. Os pesquisadores suspeitam que o vírus penetre nos neurônios e cause a morte dessas células, interferindo assim com o desenvolvimento do cérebro.

Foi possível até mesmo sequenciar completamente o genoma do vírus e compará-lo ao de outras amostras colhidas no Brasil e outras partes do mundo. A maior semelhança foi com a de vírus colhidos na Polinésia Francesa em 2013 e em São Paulo, em 2015. Não foram encontrados vestígios de nenhum dos outros vírus que podem causar microcefalia, como os da herpes e citomegalovírus.

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O estudo não identifica a paciente e não esclarece se ela é cidadã eslovena ou viajou para aquele país apenas para realizar o aborto -- que é proibido no Brasil para esse tipo de situação.

Também ontem o The New England Journal of Medicine publicou um editorial sobre a epidemia. Segundo os editores da revista, o estudo da Eslovênia "não fornece uma prova absoluta de que o zika vírus causa microcefalia",mas torna essa ligação "mais forte". A publicação, que é uma das mais conceituadas do mundo na área médica, defende que as mulheres afetadas tenham acesso a serviços de saúde relevantes, "incluindo métodos contraceptivos, diagnósticos e serviços de interrupção da gravidez".

 

Médica do Hospital Oswaldo Cruz, no Recife, analisa tomografia de bebê com microcefalia. Crianças nascidas com menos de 32 cm de perímetro encefálico são consideradas casos suspeitos. Foto: Felipe Dana/AP
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