Herton Escobar
12 de setembro de 2014 | 08h00
O trágico trabalho sobre as células-tronco STAP — que não só precisou ser retratado, mas gerou um escândalo tão grande e vergonhoso que levou um pesquisador japonês a cometer suicídio — foi inicialmente rejeitado pela revista Nature, dez meses antes de ser publicado, segundo informações publicadas no site de notícias Science Insider. Um bom sinal de que o sistema de revisão por pares (peer review) não falhou tão grotescamente neste caso como se imaginava. E um mal sinal para a revista Nature, que acabou publicando o artigo mesmo assim (talvez enganada, talvez negligente), depois de os revisores terem detectado vários problemas nele.
O Science Insider traz a cópia de um email enviado por um editor da Nature para a autora principal da pesquisa, Haruko Obokata, de abril de 2013, em que o editor relata a ela a opinião dos três revisores para os quais o trabalho havia sido submetido para análise. Os comentários dos revisores são bastante detalhados, e todos eles apontam uma série de problemas com o trabalho — cujas conclusões eram potencialmente revolucionárias, porém carentes de comprovação.
“Apesar de eles (os revisores) terem achado o trabalho extremamente interessante, assim como nós, eles levantam preocupações importantes que, do nosso ponto de vista, precisam ser resolvidas antes que possamos considerá-lo para publicação na Nature“, diz o editor a Obokata. Depois disso não está claro o que aconteceu (o que Obokata fez para responder aos questionamentos dos revisores); mas o fato é que, dez meses depois, o trabalho foi publicado. E seis meses depois, retratado.
A íntegra do email pode ser lida aqui:
O trabalho, segundo o Science Insider, também foi submetido para as revistas Science e Cell; e rejeitado por ambas.
Leia o histórico do escândalo das células STAP aqui: http://migre.me/lArOO
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