Herton Escobar
17 de julho de 2015 | 20h57
Lembro-me de publicar, em 16 de janeiro de 2006, uma
Fiquei inconformado. Será possível que ninguém, nem mesmo a Nasa, 76 anos depois de o planeta ter sido descoberto, tinha uma foto decente dele para mostrar? Não, não tinha mesmo, e era justamente por isso que a tal sonda estava sendo enviada para lá! Plutão é tão pequeno (caberia dentro do Brasil) e está tão longe da Terra que nem mesmo o superpoderoso telescópio espacial Hubble conseguia enxergá-lo com nitidez. Sobre suas características físicas, sabíamos que ele era composto principalmente de gelo e que tinha cerca de dois terços do diâmetro da Lua; mas não muito mais do que isso. Era um personagem sem rosto, andando pelas sombras no fundo do teatro celestial.
Essa era a “foto” mais detalhada da superfície de Plutão disponível em 2006, quando a New Horizons foi lançada. Feita por uma combinação de imagens do telescópio espacial Hubble em 1996.
“Só mesmo indo até lá para saber o que está acontecendo”, disse-me, na ocasião, Ralph McNutt, um dos cientistas responsáveis pela missão. E não é que a sonda chegou lá mesmo, exatamente como programado, 9 anos e 5 bilhões de quilômetros depois?
Em 14 de julho de 2015, a New Horizons passou voando por aquele velho borrão de pixels, bateu algumas fotos e, como num passe de mágica, o transformou num maravilhoso planetinha, colorido, redondinho e cheio de montanhas, crateras, vales e fissuras. O globo de vidro sem graça da discoteca espacial já pode ser aposentado. De agora em diante, Plutão tem olhos, nariz e boca. A Nasa finalmente colou uma foto decente no RG do nosso querido “planeta-anão”.
Clique aqui para ver um vídeo da “transformação” de Plutão ao longo das décadas: http://goo.gl/QR2cX7
Depois de tantos anos me referindo a Plutão como uma “bola de gelo”, imaginava que seria branco, ou no máximo cinza. Mas não. Nos retratos mais íntimos clicados pela sonda, seu tom de pele revela-se alaranjado. Parece ter acabado de chegar da praia. Abaixo da sua linha do equador, pode-se ver uma grande “mancha” de material mais claro, com a forma de um coração; e abaixo dela, regiões mais escuras, pontuadas por crateras. Características que contam detalhes sobre a história de vida desse planeta, tal qual cicatrizes e manchas no rosto de um ser humano.
Que história é essa, exatamente? Não sabemos ainda, mas pode ter certeza que um bando de cientistas bem estudados vai passar um bom tempo nos próximos meses e anos se debruçando sobre essas imagens (e os dados científicos que as acompanham) para compor essa narrativa. Essa é grande maravilha da exploração espacial: investigar o desconhecido em busca de respostas para perguntas que você nem sabia que existiam.
Plutão, prazer em conhecê-lo. Seja bem vindo ao palco.
Plutão foi descoberto em 1930 pelo astrônomo americano Clyde Tombaugh. Ele comparou essas duas imagens do céu noturno e detectou um pontinho que se mexia por entre as estrelas. Era o nono planeta.
Um lindo vídeo do jornal The New York Times sobre a missão New Horizons.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.