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Saguis aprendem a falar com os pais, diz estudo

Pesquisa liderada por brasileiro em Princeton, nos EUA, mostrou que essa habilidade cognitiva não é exclusiva dos seres humanos. Trabalho é destaque de capa na revista Science.

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Por Herton Escobar
Atualização:

Capa da revista Science desta semana. Foto: Estadão

Os guinchos de um macaquinho da Mata Atlântica na Universidade Princeton, nos Estados Unidos, colocaram o Brasil na capa da revista Science. O estudo que ilustra a capa do famoso periódico científico americano esta semana é de um pesquisador brasileiro: Daniel Yasumasa Takahashi, médico, matemático e bioinformata formado pela Universidade de São Paulo (USP).

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A pesquisa mostra que os saguis-de-tufo-branco aprendem a vocalizar com a ajuda de seus pais, da mesma forma que uma criança humana aprende a falar -- ouvindo, imitando e recebendo feedback acústico dos adultos. Uma habilidade cognitiva que, até agora, pensava-se ser exclusiva dos seres humanos e de algumas aves. Nem mesmo chimpanzés, quando testados, demonstraram tal capacidade.

Os saguis-de-tufo-branco (Callithrix jacchus, também chamados de micos), são uma espécie comum de macaco da Mata Atlântica. Takahashi conta que decidiu trabalhar com eles porque são animais muito sociais e que utilizam muito as vocalizações para interagir uns com os outros. Ele já havia notado que essas vocalizações mudam bastante à medida que os macaquinhos crescem, passando de um choro aleatório para guinchos mais organizados, que os adultos usam para se comunicar na mata.

Dizia a "regra" (não só para os saguis, mas para quase todos os animais além do homem) que essa transformação das vocalizações ocorria pela simples evolução anatômica dos bichos -- ou seja, pelo desenvolvimento das cordas vocais, aumento do pulmão e das cavidades respiratórias, melhor controle da respiração, etc. Não por aprendizado decorrente de interações sociais. "Sempre que alguém detectava alguma mudança de vocalização achava que isso era devido ao crescimento do animal, sem qualquer mecanismo neuronal envolvido", disse o pesquisador ao Estado.

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Saguis-de-tufo-branco no Parque Burle Marx, em São Paulo. Foto: Dario Sanches, via Flicker/Wikipedia

Não convencido, Takahashi gravou as vocalizações de 10 saguis, desde o nascimento até os dois meses de idade. Depois, analisou os sons no computador e confirmou que a estrutura deles, de fato, mudava radicalmente e rapidamente nesse período. Mas as mudanças anatômicas na via respiratória dos bichos não era suficiente para explicar isso.

Foram analisadas, mais especificamente, as vocalizações de um tipo conhecido como "phee", que os saguis usam como um sinal acústico de GPS para se localizar na mata, quando perdem contato visual uns com os outros. Equivalente a um ser humano gritando "hey!" ou "aqui!" para um amigo quando está perdido na floresta.

Segundo os experimentos, os saguis que receberam mais feedback dos pais fizeram a transição de choro para phees muito mais rápido do que os macaquinhos que não receberam tanto reforço. Ou seja: os filhos que interagiram mais com os pais aprenderam a falar mais rápido do que os outros, que não tinham tanta interação com macacos adultos (num isolamento induzido pelos pesquisadores). A diferença entre alguns animais chegou a 30 dias.

Em resumo: o desenvolvimento da fala nos saguis, assim como nos seres humanos, é um processo de aprendizado dependente de interações sociais. Tal qual um bebê que começa balbuciando e aprende a transformar seus "bá bá bás" e "bu bu bús" em palavras, escutando e imitando os adultos que interagem com ele.

Takahashi é pesquisador associado em Princeton, no laboratório de Asif Ghazanfar, que também assina o estudo, disponível aqui: http://goo.gl/9bljbA

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Neste link é possível ver um vídeo sobre o trabalho e ouvir as vocalizações dos saguis: http://goo.gl/yUh2kN

Abaixo, um vídeo do jornal The New York Times, sobre outro estudo envolvendo os saguis-de-tufo-branco.

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