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Imagine só!

Sobre neurociências em Natal 6

Por Herton Escobar
Atualização:

FOTO: Andre Lessa/Estadão - Copyright (Março de 2012)

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Abaixo, a íntegra da entrevista realizada ontem por email com o prof. Nicolelis, referente à carta publicada por ex-colegas questionando sua gestão do INCT Interface Cérebro-Máquina (Incemaq):

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Estado: O senhor recebeu, pessoalmente, uma cópia da carta? Se não, como tomou conhecimento dela?

Nicolelis: Não recebi nenhuma cópia da carta. Fui informado por terceiros no sábado da existência da mesma.
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Estado: O que o senhor tem a dizer sobre o conteúdo da carta e sobre os pesquisadores que a assinam?Nicolelis: Lamento profundamente que ao invés de se dedicarem integralmente a produzir ciência para o povo brasileiro esses pesquisadores, liderados pelo prof Sidarta Ribeiro, continuem a levantar polêmicas que já foram decididas nos fóruns competentes, como o CNPQ e o Conselho Gestor dos Institutos Nacionais. O CNPQ pode esclarecer todo o processo de auditorias e visitas que foi por ele utilizado ara nos dar ganho de causa e permitir que esses pesquisadores fossem afastados do nosso projeto. Um carta resposta extensa contém toda a verdadeira história desse processo que já se encontra resolvido há vários meses.

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Estado: O senhor confirma que estes sete pesquisadores fizeram parte do Comitê Gestor do Incemaq? Em caso afirmativo, em que momento e de que modo ocorreu o desligamento deles do instituto?Nicolelis: Os pesquisadores foram membros do comite gestor. Eles se desligaram oficialmente depois que o CNPQ e o Conselho Gestor dos Institutos Nacionais nos autorizou formalmente a substituí-los.

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Estado: Quem são os componentes atuais do Comitê Gestor do Incemaq?Nicolelis: Essa informação é pública e pode ser facilmente obtida junto ao CNPQ.*

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Estado: O senhor pode fazer um detalhamento das atividades de pesquisa em andamento e/ou já desenvolvidas pelo Incemaq dentro do IINN-ELS desde a sua formação?Nicolelis: Essa pergunta não pode ser respondida de forma apropriada no curto espaço dedicado para essa entrevista. Brevemente, o INCEMAQ é o Instituto referência no Brasil na área de interfaces cérebro máquina e esta envolvido no estudo da plasticidade cerebral e desenvolvimento de neuropróteses para tratamento de doenças neurológicas como a doença de Parkinson e a paralisia motora grave.

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Estado: O senhor confirma a informação contida na carta, de que o Prof. Marcio Moraes apresentou na primeira reunião do Comitê Gestor do Incemaq, em julho de 2010, resultados preliminares de um projeto de pesquisa que estava em andamento em seu laboratório na UFMG, envolvendo a implantação de receptores de luz infravermelha conectados ao cérebro de ratos? Esta apresentação do Prof. Marcio teve alguma influência no seu projeto de pesquisa, de caráter semelhante, desenvolvido na Universidade Duke e recentemente publicado na revista Nature Communications?

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Nicolelis: Não tenho nenhuma lembrança, dois anos depois, da apresentação do prof. Marcio Moraes. Não dúvido que ele possa ter apresentado algum trabalho envolvendo uso de transdutor infravermelho. Todavia, nosso trabalho, como demonstram os documentos remetidos ao senhor, se dedicava a pesquisas usando luz infravermelha como fonte de controle de uma neuroprotese cortical desde 2006. Nada do que o prof Márcio Moraes possa ter dito ou feito teve qualquer influência no nosso trabalho. O trabalho, segundo o que li hoje, envolvia estimulação de uma região subcortical que nada tem a ver com o processamento de informação tátil, o alvo da nossa pesquisa na Universidade Duke. Nosso trabalho visa criação de neuropróteses para aumentar o espectro perceptual de mamíferos. Eu não tenho nenhuma ideia sobre os objetivos do trabalho do prof. Moraes porque não conheço e nunca li nenhum trabalho dele publicado na área de interfaces cérebro máquina. Meus alunos também me informam que não encontraram nenhuma publicação pertinente desse professor envolvendo o estudo que ele cita como tendo apresentado em 2010. Considero a insinuação de que esse trabalho tenha influenciado os nossos estudos primária, leviana e irresponsável. Se o prof e seus colegas tem qualquer prova disso que as apresentem. Nós podemos provar a procedência e as datas do nosso projeto que antecede em muito a suposta apresentação em julho de 2010.

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Estado: Em que momento e de que forma o senhor teve a ideia para este projeto de pesquisa publicado na revista Nature Communications? A semelhança com o projeto desenvolvido pelo Prof. Marcio Moraes na UFMG é mera coincidência? Por que o senhor não buscou algum tipo de parceria com o Prof. Marcio para este projeto?Nicolelis: Nosso projeto, como mostra email anexo, começou a ser desenvolvido em 2006 na Duke University. Nosso setup experimental foi construído em 2009 e os primeiros registros começaram em janeiro de 2010. O capitulo 10 do meu livro Muito Além do Nosso Eu que foi concluído em maio de 2010 descreve toda a estratégia usada pelo meu laboratório para construir essa neuroprótese cortical. Portanto, é risível que alguém possa insinuar que qualquer apresentação em julho de 2010 possa ter influenciado o nosso trabalho. Trata-se de uma afirmação oportunista que merece apenas o meu repúdio uma vez que  não houvequalquer influência do trabalho do prof. Moraes no nossos estudos. É importante ressaltar que a simples escolha de um transdutor de luz infravermelho não faz essas duas pesquisas serem semelhantes. Não procurei nenhuma parceria como prof. Moraes porque nossa linha de pesquisa não tinha qualquer confluência com a dele. Colaborações científicas são determinadas por uma série de fatores, e nenhum cientista é obrigado a colaborar com outro.

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Estado: Que partes desta pesquisa publicada na revista Nature Communications foram produzidas in loco, em território nacional, dentro das dependências do IINN-ELS? Ela pode ser considerada um exemplo de produção científica do Incemaq?Nicolelis: O trabalho publicado na revista Nature Communications define a primeira metade de um projeto de pesquisa cuja segunda parte será publicada em outra revista do grupo Nature nessa próxima quinta-feira. O componente desse estudo realizado no IINNELS está descrito abundantemente nesse segundo trabalho.

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