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SOBRE NEUROCIÊNCIAS EM NATAL 2

Por Herton Escobar
Atualização:

O jornal O Estado de S. Paulo traz hoje mais uma reportagem sobre os projetos do neurocientista Miguel Nicolelis em Natal, em consequência da reportagem anterior, publicada no domingo. Os textos na íntegra estão disponíveis neste link.

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Vale ressaltar que, mais uma vez, o jornal solicitou uma entrevista com o Prof. Nicolelis, mas não foi atendido. Logo na manhã de ontem (dia 18), quando o professor postou a lista de trabalhos publicados no site do IINN-ELS, enviei um email para ele, com cópia para sua assessora em São Paulo, dizendo que a lista seria analisada pela reportagem, que o jornal planejava publicar uma nova matéria sobre o assunto hoje, e pedindo a ele que reservasse algum tempo durante a tarde para esclarecer eventuais dúvidas e questionamentos. No início da tarde, enviei ao Prof. Nicolelis e sua assessora um email com oito perguntas (todas bastante detalhadas e objetivas) relacionadas a todos os temas que seriam abordados na reportagem. O email foi reenviado no meio da tarde, e mensagens foram enviadas por telefone, mas não houve retorno por parte do professor nem de sua assessora.

A redação do jornal continua a disposição do Prof. Nicolelis para uma entrevista.

OBS: Peço às pessoas que leiam as reportagens de domingo e de hoje com um pouco mais de atenção. Não há dúvida de que o IINN-ELS estava produzindo ciência de qualidade até antes do "racha", em agosto de 2011, que é o que mostra a lista de trabalhos divulgada ontem pelo Prof. Nicolelis. O chamado "apagão" refere-se especificamente ao período pós-racha (quando todos os pesquisadores que essencialmente produziam a ciência do instituto foram embora), e não diz respeito apenas à publicação de papers, mas ao esvaziamento quase que total do capital humano do IINN-ELS, considerando que o instituto teve sua equipe de pesquisa reduzida a seis pessoas, com um índice H muito abaixo do que o próprio Prof. Nicolelis diz considerar minimamente aceitável, e que, apesar disso, vai receber R$ 33 milhões em dinheiro público para desenvolver um projeto de altíssima complexidade que é questionado cientificamente e eticamente por boa parte da comunidade científica brasileira. Como jornalista, tenho obrigação de trazer esses questionamentos à luz para debate. As perguntas essenciais, listadas abaixo e no post anterior, continuam à disposição do Prof. Nicolelis, caso ele se interesse em respondê-las. Obrigado.

Abaixo, as perguntas que foram enviadas ao professor:

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1. Dos sete trabalhos citados, cinco deles foram publicados ou submetidos para publicação antes do rompimento e anúncio da nova equipe do IINNELS em agosto de 2011 (PLoS One, BJMBR, PNAS, PLoS One e Cerebral Cortex); portanto, não podem ser considerados trabalhos "novos" produzidos pela atual equipe do instituto. O senhor concorda?  (Digo isso com base nos dados bibliográficos que constam nos próprios trabalhos.)

2. Com relação aos dois trabalhos da Neuroscience: dentre todos os autores há apenas um que faz parte da equipe atual do IINNELS (Marco Freire), e ele assina o trabalho com duas afiliações (IINNELS e UFPA, onde ele fez mestrado e doutorado). Todos os outros autores são de outras instituições ou já romperam com o IINNELS e migraram para a UFRN. Juntando todos esses fatos, seria correto concluir que os trabalhos, apesar de terem sido publicados após agosto de 2011, são resultado de pesquisas realizadas primordialmente antes desta data e, portanto, não representam trabalhos "novos" produzidos pelo IINNELS no último um ano e meio?

3. Qual é a relação desses trabalhos com o desenvolvimento da tecnologia de Interface Cérebro-Máquina (ICM) que o senhor pretende aplicar no Projeto Andar de Novo no Brasil?

4. O senhor vai receber R$ 33,2 milhões do governo federal para o Projeto Andar de Novo. Como pretende aplicar esse dinheiro no Brasil? Quais partes do projeto serão realizadas no País, versus nos EUA ou na Suíça? O senhor tem planos de se fixar no Rio Grande do Norte para desenvolver esse projeto dentro do IINN-ELS, em tempo para a Copa do Mundo? Ou a tecnologia será desenvolvida primordialmente fora do Brasil?

5. Com relação à lista dos 18 trabalhos que o senhor publicou em 2011-2012: O fato de o senhor ser o único autor do IINN-ELS na maioria deles significa que o senhor, pessoalmente, esteve no instituto fazendo experimentos relacionados a eles? Quanto desses trabalhos foi produzido, na prática, dentro do IINN-ELS? Ou a afiliação citada nos estudos é apenas simbólica, sem implicar que parte dos trabalhos foi feita fisicamente nos laboratórios do instituto?

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6. Complementando uma das perguntas que enviei por email para o senhor na semana passada, com relação ao fato de o senhor não ter publicado os resultados do experimento com o robô no Japão: Uma correção publicada na reportagem original do jornal The New York Times em janeiro de 2008 indica que o robô foi projetado pela empresa Sarcos, de Utah, que dois meses antes foi comprada pela Raytheon, empresa que desenvolve tecnologias militares e que tem uma linha de pesquisa especificamente voltada para o desenvolvimento de exoesqueletos de infantaria. Há alguma ligação entre as pesquisas do senhor e a Raytheon? Quanto da sua pesquisa com Interface Cérebro-Máquina na Duke é financiada pela Darpa, a agência de pesquisa do Departamento de Defesa dos EUA? Qual é a implicação disso sobre a propriedade intelectual das tecnologias que vierem a ser desenvolvidas como resultado dessas pesquisas?

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7. Como o senhor recebe as críticas feitas à sua pessoa por lideranças da comunidade científica brasileira, expostas na reportagem de domingo?

8. Numa pesquisa bibliográfica na internet encontrei dois trabalhos que foram publicados pelo senhor com afiliação ao Hospital Sírio-Libanês, no qual o senhor manteve um laboratório durante 6 anos: Activation of frontal neocortical areas by vocal production in marmosets (Frontiers in Integrative Neuroscience, Sept. 2011) e Comprehensive Analysis of Tissue Preservation and Recording Quality from Chronic Multielectrode Implants (PLoS One, Nov. 2011). O senhor confirma esta informação, ou há outros trabalhos publicados como resultado desta parceria no Hospital?

Obrigado.

Informações complementares:

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No processo de apuração da reportagem, o jornal enviou também um email ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) perguntando qual era a justificativa técnica para a decisão de dar R$ 33,2 milhões (sem a realização de editais ou qualquer outro método de avaliação de mérito por pares) para o Projeto Andar de Novo, do Prof. Nicolelis. E se havia alguma condicionante atrelada à concessão desse dinheiro -- por exemplo, talvez, a obrigação de que a tecnologia do projeto seja desenvolvida no Brasil?

A resposta do Ministério: "Em relação à sua nova demanda de informações para matéria sobre o Projeto Andar de Novo, este ministério entende que já prestou todas as informações sobre valores, objetivos e benefícios do Projeto para a ciência do nosso país, bem como toda a sociedade brasileira. Desta forma o MCTI não tem informações a acrescentar."

Na semana passada, a resposta do MCTI ao meu pedido de informações sobre quanto dinheiro o ministério já havia aplicado nos projetos desenvolvidos por Nicolelis no Rio Grande do Norte, a resposta foi, essencialmente: "os dados estão disponíveis no Portal da Transparência". (Uma resposta, convenhamos, não muito transparente.)

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