13 Reasons Why provocou aumento de 19% em buscas sobre suicídio na internet, diz estudo

Estudo mostra que, nas semanas após estreia, houve pico de procura por termos relacionados à idealização do suicídio; autores pedem retirada da série do ar para edição do conteúdo conforme recomendação da OMS

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Por Fabio de Castro
Atualização:

As buscas sobre suicídio na internet aumentaram 19% nas semanas seguintes ao lançamento da série 13 Reasons Why, de acordo com um novo estudo realizado por cientistas americanos. De acordo com os autores da a pesquisa, ao mostrar em detalhes o suicídio da protagonista, a série não levou em conta as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para mídias. 

"13 Reasons Why aumentou a consciência sobre o suicídio, mas é preocupante que as buscas associadas à idealização do suicídio também tenham aumentado. Nossos resultados dão apoio ao maior temor dos críticos dessa série: ela pode ter inspirado muita gente a agir a partir de seus pensamentos suicidas, ao buscar informações sobre como se matar", afirmou o coordenador do estudo John Ayers, da Escola de Saúde Pública da Universidade de San Diego.

Clay Jensen e Hannah Baker são os protagonistas da série '13 Reasons Why'; série foi criticada por abordar o suicídio de forma leviana Foto: Beth Dubber/Netflix

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Os autores do estudo fizeram um apelo para que a Netflix retire a série do ar para edição das cenas que não estão em conformidade com as diretrizes da OMS. Eles também recomendaram que a segunda temporada da série seja testada com uma plateia piloto antes de ser liberada para exibição pública. O estudo foi publicado hoje na revista científica JAMA Internal Medicine, da Academia Americana de Medicina.

Para realizar a pesquisa, os pesquisadores utilizaram dados do Google Trends, um arquivo público de buscas agregadas na internet. Eles analisaram o volume de buscas sobre suicídio no período que vai de 31 de março de 2017 - dia da estreia da série - até o dia 18 de abril do mesmo ano. 

Os resultados foram comparados com o período anterior ao lançamento da série. A data final da amostra foi fixada nesse dia para evitar contaminação estatística com o caso do suicídio do jogador de futebol americano Aaron Hernandez, no dia 19 de abril. "Essa estratégia permitiu que isolássemos qualquer efeito que a série teve na maneira como o público se pensou no suicídio", disse um dos autores, Benjamin Althouse.

O número de buscas no Google pelo termo "suicídio" foi cumulativamente 19% maior que o normal nos 19 dias após a estreia da série, correspondendo a um volume de 900 mil a 1,5 milhão de buscas além do que seria esperado antes da série.

Em 12 dos 19 dias estudados, todas as buscas relacionadas a suicídio tiveram volumes maiores que o esperado, variando de 15% acima da tendência normal, no dia 15 de abril, até 44% no dia 18 de abril.

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Os autores examinaram 20 termos comuns de busca para descrever como as buscas relacionadas a suicídio também mudaram. Dos 20 termos, 17 tiveram volumes de busca maior que o esperado. 

Todas as buscas relacionadas a suicídio subiram 19% acima do esperado após a estreia série. Houve um aumento de 12% nas buscas por "telefone suicídio", 23% para "prevenção ao suicídio" - o que os cientistas interpretam como uma contribuição da série para a prevenção ao suicídio. 

Por outro lado, houve um pico 26% acima do normal nas buscas pelo termo "como cometer suicídio",18% para "cometer suicídio" e 9% para "como se matar".

"Não está claro se alguma dessas buscas levou diretamente a suicídios. Mas pesquisas anteriores mostraram que o aumento nas buscas por métodos de suicídio na internet está correlacionado ao aumento do número de suicídios reais", declarou Ayers.

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Diretrizes da OMS. Os autores destacaram que alguns dos potenciais danos relacionados ao lançamento da série poderiam ter sido evitados caso os padrões de mídia da OMS houvessem sido seguidos. "É crucial que os produtores sigam essas diretrizes. Elas desestimulam, por exemplo, conteúdos que falem do suicídio e do ato de suicídio. A série dedicou 13 horas uma vítima de suicídio, mostrando até mesmo o ato de suicídio em pavoroso detalhe", disse Ayers.

"Esses problemas são exacerbados por conta da mídia online, que fica no ar para sempre. Isso significa que mais gente está sendo exposta aos danos potenciais da série neste exato momento", disse Eric Leas, outro dos autores da pesquisa.

"Estamos fazendo um apelo para que a Netflix remova a atração e edite o conteúdo para alinhá-lo aos padrões da OMS antes de colocá-la novamente no ar. Além disso, a segunda temporada que está planejada, assim como todos os próximos programas sobre suicídio, deveriam ser testadas antes de ser abertas para o grande público. Isso evitaria que conteúdos bem intencionados produzam resultados inesperados", afirmou Ayers.

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Em nota, a Netflix indicou que levará em conta os resultados dessa e de outras pesquisas. "Nós sempre acreditamos que a série aumentaria a discussão sobre este tema. Esse é um estudo experimental interessante que confirma isso. Estamos ansiosos por mais pesquisas e levaremos em consideração tudo o que aprendemos enquanto nos preparamos para a segunda temporada", declarou a empresa.

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