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A boa e velha luz do Sol

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Por Redação
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Imagine só: cada raio de luz que chega até a Terra hoje – seja para iluminar uma flor no campo ou bronzear a sua pele na praia – foi produzido no interior do Sol 30 mil anos atrás.   O Sol é, basicamente, uma grande bola de gás incandescente que funciona como um reator nuclear, fundindo átomos de hidrogênio pela força de sua própria gravidade. O que significa, em outras palavras, que os átomos de hidrogênio no interior da estrela estão tão espremidos que acabam grudando uns nos outros para formar outros elementos.   A receita principal solar é a transformação de hidrogênio em hélio: cada quatro átomos fundidos de hidrogênio produzem um átomo de hélio. E assim a nossa estrela segue no seu dia-a-dia incansável de celebridade espacial. Nada muito glamouroso, mas tudo extremamente importante.   Felizmente para nós (e quase todas as outras formas de vida na Terra), essa pequena transformação atômica, além de hélio, também produz grandes quantidades de calor e radiação luminosa (fótons), que são irradiados continuamente para o espaço, banhando a Terra e todos os nossos planetas vizinhos no caminho.   Mas haja paciência: o interior do Sol é tão quente (15 milhões de graus Celsius) e tão denso que, só para chegar do núcleo até a superfície da estrela, cada fóton leva 30 mil anos. Imagine algo como um gigantesco engarrafamento de partículas e átomos que se chocam sem parar, como abelhas cegas no interior de uma colméia gigante de 1,4 milhão de quilômetros de diâmetro.   "A densidade no interior do Sol é muito elevada, por isso o espaço livre de percurso que uma partícula pode percorrer sem colidir com outra é muito curto", explica o professor Pierre Kaufmann, do Centro de Rádio-Astronomia e Astrofísica Mackenzie, especialista em Sol.   Uma vez lançada ao espaço, finalmente, cada partícula de luz ainda precisa percorrer 150 milhões de km para chegar do Sol até a Terra. Nesse caso, porém, a viagem é bem mais rápida: leva apenas 8 minutos, já que os fótons estão viajando a velocidade da luz e o trânsito espacial está liberado.   Só então (ufa!), 30 milênios após seu nascimento no interior daquela bola luminosa que chamamos de Sol, a luz está pronta para atravessar a atmosfera terrestre e atingir o cloroplasto de uma planta – que a utiliza no processo de fotossíntese – ou uma célula de melanina da sua pele na praia, que se torna excitada e passa a produzir níveis maiores de pigmentação. O resultado pode ser um belo bronzeado ou uma bela queimadura, dependendo do padrão genético e dos cuidados da pele de cada um.   Uma observação técnica: O que chamamos de luz, na verdade, é apenas a parte do espectro de radiação eletromagnética que nossos olhos humanos são capazes de enxergar. A radiação solar que de fato queima nossa pele é a ultravioleta, que não enxergamos. Além disso, o Sol também bombardeia o espaço continuamente com ondas de rádio, raios infravermelhos e raios X – mas esses, felizmente, são filtrados pela atmosfera terrestre.   "Se não existisse a blindagem pela ionosfera, os raios X solares destruiriam a vida na superfície da Terra", resume o professor Pierre. Sem falar que a radiação solar é diretamente responsável pelo clima do planeta … mas isso é assunto para outro dia. Pense nisso da próxima vez que estiver "pegando um solzinho" na praia.     Leia também as colunas anteriores na série "Imagine Só":   Tempo para pensar no tempo O universo invisível Se Lula fosse uma planária Se beber, agradeça aos fungos  A origem dos combustíveis fósseis Meio homem, meio bactéria As estrelas da noite

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