A humanidade e a natureza vistas por Sacha Bïyan

Fotógrafo canadense exibe em São Paulo imagens de culturas primitivas e povos que vivem uma relação de respeito com a natureza

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Por Agencia Estado
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Um projeto grandioso, que já rendeu belas imagens de populações primitivas nos quatro cantos do planeta, pode ser visto a partir desta semana na Galeria Marta Traba, nome oficial do espaço expositivo do Memorial da América Latina. Trata-se da mostra Ouroboros: Spiritus, uma seleção de 150 fotos realizadas por Sacha Dean Bïyan nos últimos seis anos e que refletem seu desejo de resgatar uma certa inocência e pureza das culturas ancestrais, profundamente e misticamente sintonizadas com a natureza. ?Fico profundamente desanimado ao ver nossos jovens fascinados por essa cultura moderna, pelo dinheiro. É isso que me dá medo?, afirma Bïyan, fazendo referência ao fato de já ter enfrentado momentos de forte tensão em suas incursões pela selva, como quando o barco em que estava virou e ele perdeu na água material que custara vários milhares de dólares. ?Me deprime profundamente o desrespeito pela vida, pelas coisas?, afirma. Viagem dura Apaixonado por fotografia desde criança e profissional reconhecido no campo da moda ? profissão que adotou depois de ter se formado em engenharia com especialidade em aeronáutica ?, Bïyan quase interrompeu seu projeto logo no início, depois de sua primeira estadia numa tribo selvagem da Indonésia. Foi uma viagem dura, cheia de atribulações e a empreitada só teve continuidade graças à parceria com duas organizações, a Fundación Amazonica de Ecuador e a Survival International. No entanto, mais de 2.500 rolos de filme depois e tendo registrado de 50 a 60 comunidades mundo afora ? o que exige um grande esforço, já que para conquistar a confiança de pessoas que em alguns casos jamais haviam visto uma máquina fotográfica o obriga a ficar pelo um mês entre eles ?, ele afirma que jamais deixará de lado esse mergulho no universo simples, mas verdadeiro, das comunidades indígenas do mundo. A peregrinação ao redor do mundo também diz muito sobre sua história pessoal. Indiano como seu pai, filho de peruana e naturalizado canadense, Bïyan vive atualmente entre o Rio e Nova York. Tem relações importantes também com o Japão, onde realizará a segunda etapa da mostra Ouroboros, em meados de 2004. Fala cinco idiomas e, mesmo assim, necessitou de intérpretes em cada incursão que realizou. Contato ousado Dentre os contatos mais ousados que realizou, Bïyan cita aquele feito numa tribo que até cinco anos atrás vivia totalmente isolada, na selva amazônica do Equador, mas que já dá sinais de aculturação acelerada nos últimos tempos. ?Não se pode impedir isso?, lamenta ele, afirmando que é necessário encontrar um ponto de equilíbrio entre essas tensões, entre a dita civilização e a tradição desses povos. A decisão de mostrar seu trabalho pela primeira vez no Brasil decorre de uma série de fatores: sua crescente presença no País, a importância da América Latina em seu trabalho e seu encantamento com o espaço da galeria. Todo o conceito da mostra foi desenvolvido a partir do formato circular da sala desenhada por Oscar Niemeyer, que lhe sugeriu a idéia de explorar uma mitologia comum a várias culturas: a cobra que morde seu próprio rabo, num ciclo de vida e morte que tem muito da singeleza que ele buscou captar. Mostra Ouroboros: Spiritus De terça a domingo, das 9h00 às 18h00. Até 11 de janeiro Memorial da América Latina ? Galeria Marta Traba. Avenida Auro Soares de Moura Andrade 664, fone 11-3823-4600.

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