A moda que vem da Mata Atlântica

Algumas mulheres de Rio Grande da Serra transformaram sementes e folhas dos quintais de suas casas em matéria-prima para trabalhar. As bijuterias fizeram sucesso e elas agora agora ganham dinheiro exportando para países como a Itália e a Inglaterra

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A vida de mulheres pobres de Rio Grande da Serra, na região do Grande ABC, está mudando para melhor. Tudo por causa de milhares de sementes e folhas da Mata Atlântica que estão nos quintais de suas casas simples ou nas ruas da cidade. Essa matéria-prima natural, que antes virarava lixo, está se transformando em bijuterias que são exportadas para a Europa. Para essas donas de casa tudo ainda parece um conto de fadas. Os números mostram, no entanto, que o sucesso é real. No mês passado, o grupo de 20 mulheres exportou para a Itália 2.198 peças, entre colares, brincos e pulseiras. Foi a primeira exportação que rendeu R$ 6 mil. Até a próxima semana, elas terão que aprontar mais 1.100 bijuterias para as italianas e receberão cerca de R$ 2,3 mil. Os ingleses também já se renderam aos encantos das sementes de olho-de-cabra, rosário, olho-de-boi e fava-amarela, entre outras. No mês que vem as artesãs iniciantes vão começar a trabalhar em 4 mil acessórios que serão enviados para Londres. Desemprego maior entre as mulheres Há três meses, essas mulheres costumavam colocar suas peças em sacolas e tomar o trem rumo às feiras da capital. Mas a rotina começou a mudar quando uma pesquisa do IBGE mostrou que 53% da população feminina de Rio Grande da Serra estava desempregada. A Prefeitura então desenvolveu treinamentos para capacitá-las profissionalmente. As mais carentes foram selecionadas para participar de um curso de bijuterias. Ana Elisa Lins, diretora da Secretaria de Cidadania e Ação Social, via a possibilidade da integração do curso com o desenvolvimento sustentável do município. Rio Grande da Serra está cercado pela Mata Atlântica e uma grande parte da vegetação ainda é nativa. "Acreditava que era possível conciliar as necessidades delas com os recursos abundantes da cidade", conta Ana, que usa um colar de sementes. Aliás, nada é mais típico na cidade que tomar cachaça com sementes de sucupira. A bebida está em todos os botecos. "É um poderoso afrodisíaco", conta um morador. O professor e artesão José Carlos Santos, de 40 anos, sempre gostou de trabalhar com sementes, mas teve de vencer a resistência das alunas, que preferiam trabalhar com matéria-prima industrializada. A resistência foi vencida depois que o grupo levou umas peças feitas com sementes a uma exposição na zona sul da capital. As bijuterias logo se esgotaram, surpreendendo as mulheres, que passaram a trabalhar com o novo material. Por conta própria, muitas passaram a catar sementes e folhas no mato ou recolhê-las do quintal ou no caminho do supermercado e da escola dos filhos. Aos poucos, começaram a descobrir em quais bairros existiam determinados tipos de plantas mais do que em outros. "Minha auto-estima melhorou porque descobri que sou capaz de fazer peças tão bonitas", afirmou Vera Rosa dos Santos, de 51 anos, que há sete não conseguia emprego fixo por causa da idade. No final do ano, o destino resolveu dar uma mão para as artesãs. O professor expunha bijuterias na feira de artesanato da Praça da República quando um exportador italiano interessou-se. Depois de conhecê-las fez a primeira encomenda. No mês passado, fez mais pedidos. Recentemente, um exportador inglês também entrou em contato com o grupo e o contrato será fechado nos próximos dias. "Tudo aconteceu muito rápido", lembrou Ana Elisa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.