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Abandono ameaça Parque Estadual Intervales

Antonia Pereira de Ávila Vio, diretora-executiva da Fundação Florestal, que administra o parque pelo governo, explica que a fundação decidiu, em fevereiro de 2001, pela retirada dos zeladores dessas instalações hoje destruídas

Por Agencia Estado
Atualização:

Fuga em desabalada carreira. É a imagem que vem logo à mente diante do estado das instalações de vigilância do Parque Estadual Intervales, depois que foram abandonadas pelos zeladores e depredadas por seus invasores, os palmiteiros. E a imagem corresponde aos fatos. Imagem de abandono Antonia Pereira de Ávila Vio, diretora-executiva da Fundação Florestal, que administra o parque pelo governo, explica que a fundação decidiu, em fevereiro de 2001, pela retirada dos zeladores dessas instalações hoje destruídas, depois que seguidos confrontos entre guarda-parques e invasores resultaram em duas mortes - de um guarda e de um palmiteiro -, criando tensão entre os funcionários e as comunidades vizinhas. "Os vigias corriam risco de vida", justifica Antonia. Aparentemente, uma medida de bom senso. No entanto, como os vigias não voltaram, mesmo depois que a tensão nas comunidades diminuiu, criou-se a imagem de abandono. Isso é visível nas marcas deixadas pelos palmiteiros: casas que serviam aos guardas derrubadas, paredes pichadas, trilhas e lixo - sacos de arroz, latas de sardinha. Escolta O Parque Estadual Intervales é uma área de 41.704 hectares entre os Vales do Ribeira e do Paranapanema, no sul do Estado de São Paulo. A sua porção mais alta, cujo acesso se dá pela Rodovia Raposo Tavares, "está consolidada e praticamente não tem problemas", segundo Antonia. Mas na parte mais baixa, cujo acesso se dá a partir da Rodovia Régis Bittencourt, "os problemas são sérios", segundo ela. Não seria para menos. Ao lado da ausência de zeladores fixos, a vigilância de todo o parque é feita por nove guardas, restritos às proximidades da sede do parque em Ribeirão Grande, na parte alta. A diretora Antonia explica que "os guardas são autorizados a fiscalizar as áreas distantes da sede apenas em grupos de no mínimo dois e, mesmo assim, escoltados por dois ou três policiais militares". Traficantes Para ela, todo esse cuidado se justifica. "O palmiteiro não é mais o tradicional pobre, mas hoje está associado a traficantes." Como prova, a técnica usada pelos palmiteiros de alardear a chegada da polícia é com rojões que explodem no início das trilhas. Essa avaliação da diretora tem conseqüências. Mesmo a presença de pesquisadores nas áreas distantes da sede do parque é condicionada, por ela, à presença simultânea de guarda-parques e policiais ambientais. Como tal coincidência é muito difícil, não há, hoje, pesquisadores no parque. Invasão Sem zeladores e com presença esporádica de guarda-parques e policiais ambientais, os palmiteiros intensificaram sua atividade no último ano. E chegaram às propriedades vizinhas. "Agora que acabaram com os palmitos do parque, invadem propriedades e não se intimidam mais com os vigias", testemunha um fazendeiro que não quer ser identificado. E o seu receio é justificado. "Os palmiteiros são pessoas que vivem por aqui e não têm muito a perder. Não é bom tê-los como inimigos", explica Alexandre Benassi, administrador de fazenda na região e morador da cidade de Eldorado. Pilhagem O tenente Pereira, comandante da companhia da Polícia Ambiental, que conta com 200 homens para cobrir todo o Vale do Ribeira, relata que "as denúncias de extração de palmito e desmatamentos são as ocorrências que mais ocupam o efetivo da companhia". São 5.849 toletes de palmito apreendidos só neste ano. A aposentadoria reduziu o número de guarda-parques no Parque Estadual Intervales. Quando ele foi inaugurado, em 1995, eram 40. Todos treinados, motivados e remunerados pelo Banespa, à época banco estatal que mantinha a Fazenda Intervales, transformada em parque na gestão de Fábio Feldman. Hoje, daqueles 40 guardas restam 9. "Eles foram se aposentando e não tivemos como repô-los", explica Antonia. "Esperamos abrir concurso no começo de 2003", declara. O comandante-geral da Polícia Ambiental de São Paulo, coronel Mele, sediado na Secretaria Estadual do Meio Ambiente, deixa claro que apesar da redução no número de guarda-parques "a Polícia Ambiental continua a realizar minioperações e patrulhamentos de rotina no parque". Pobres ou bandidos? Para o tenente Pereira "são os mesmos pobres de sempre, que fazem essa extração desde muito antes da criação do parque e passaram à condição de criminosos com a lei dos crimes ambientais". Para ele, as mortes têm uma explicação simples: "Os transgressores ficaram mais violentos porque acham que, se forem pegos, serão presos e não vão sair mais da cadeia. É falta de esclarecimento." Um diagnóstico oposto ao da diretora Antonia, que o tenente não conhece.

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