Abelhas têm técnica para esconder alimento das concorrentes

Pesquisadores descobrem como esses insetos trocam informações sobre a localização de alimento e agem para escondê-lo das abelhas de outras colônias

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Por Agencia Estado
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Durante quase dois meses, a rotina de um grupo de biólogos foi estudar o comportamento de abelhas da espécie Trigona hyalinata em uma fazenda de São Simão (SP). Os pesquisadores acabaram descobrindo como esses insetos, classificados como meliponíneos (sem ferrão), trocam informações sobre a localização de alimento e agem para escondê-lo das abelhas de outras colônias. "Enquanto algumas espécies fazem trilhas da fonte de alimento até a colméia, a T. hyalinata deixa marcas mais curtas, impedindo que operárias de outros grupos descubram onde está a comida", conta Felipe Contrera, aluno de doutorado do Instituto de Biociê ncias do Departamento de Ecologia da Universidade de São Paulo (USP). Contrera é um dos autores da pesquisa, junto com o ambientalista Paulo Nogueira Neto, um dos mais conceituados estudiosos do comportamento de abelhas no país, e James Nieh, professor a ssistente da Universidade da Califórnia San Diego (UCSD). As abelhas deixam o odor mais concentrado em uma das pontas do caminho, justamente onde fica a comida. Inicialmente esparsos, os pontos de cheiro vão aparecendo em maior quantidade conforme as operárias se aproximam das flores escolhidas. De acordo com C ontrera, o odor vem de uma secreção produzida pelas glândulas mandibulares dos insetos e dura em média 15 minutos. É o tempo necessário para que o alimento seja identificado pelos outros insetos da colônia. Uma área de secagem de café foi escolhida para a observação. Por ser muito quente, o ambiente não tinha muita vegetação, o que favoreceu os pesquisadores na indução das abelhas. O grupo uniu dois tripés com uma corda, instalando um alimentador artificial em uma das pontas. Na extensão da corda foram colocadas folhas que funcionaram como marcação de caminho para as abelhas. Assim, elas descobriram a comida, um xarope feito de água e açúcar com concentração definida, e passaram a deixar rastros entre a fo nte e o ninho, que ficava a alguns metros do local. Considerada bastante agressiva, a T. hyalinata costuma "saquear" outras colônias, levando reservas de pólen e de mel. De acordo com Contrera, alguns criadores de abelhas não gostam muito da espécie porque ela destrói as flores. A partir do momento em que a trilha é descoberta, um enxame se lança em busca de comida. "Em grande número, as operárias são capazes de combater intrusos que estejam na fonte de onde elas desejam extrair alimento", disse o pesquisador. Por causa do rastro de odor, elas não param no caminho mesmo que encontrem flores igualmente apetitosas. De acordo com Contrera, a descoberta pode ajudar a entender como funciona a comunicação entre as abelhas e o uso de representações abstratas na transmissão de informações. Conhecer os hábitos cotidianos dos insetos também possibilitará a orientação de cr iadores. Sabendo que espécies coexistem pacificamente e continuam produtivas, eles terão condições de refinar a produção. O estudo será publicado na edição de outubro da Proceedings of Royal Society. Uma versão on-line está disponível para assinantes no endereço www.pubs.royalsoc.ac.uk/proc_bio/proc_bio.html. As informações são da Agência Brasil e Agência Fapesp.

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