22 de julho de 2022 | 10h00
Metade da área habitável do planeta é utilizada para a produção de alimentos. Eles são consumidos pelo homem ou utilizados para alimentar animais. A agricultura também produz combustíveis (etanol) e roupas (algodão). O desenvolvimento tecnológico tem aumentado a produtividade por hectare, mas o aumento da área dedicada à agricultura tem entrado em conflito com a necessidade de preservação das florestas e outros habitats naturais.
Estoque de produtos agrícolas cresce 31% na comparação anual e chega a 36,7 milhões de toneladas
Por esse motivo, tecnologias que permitam produzir mais em uma mesma área são de extrema importância para a preservação do planeta. A novidade é que um grupo de pesquisadores chineses descobriu um gene capaz de aumentar em cerca de 50% a produção de arroz e trigo por hectare e tudo indica que o mesmo pode ser feito com outras plantas.
Plantas usam a energia solar para crescer. Esse processo é complexo, depende da capacidade da planta de captar agua e nutrientes do solo, da eficiência fotossintética e da capacidade de acumular açucares e seus derivados na forma de biomassa (grãos, folhas, raizes e caules). Isso envolve centenas de genes que precisam ser regulados de maneira coordenada.
Sabemos que há genes capazes de coordenar a atividade de enormes grupos de outros genes. O que os cientistas fizeram foi identificar mais de 100 desses genes. Em seguida selecionaram os ativados quando a planta se defronta com a falta de nitrogênio no solo ou quando a quantidade de luz é alta e a planta precisa aumentar sua eficiência para aproveitar o dia ensolarado. Foi assim que descobriram um gene chamado OsDREB1C, ativado nessas duas condições.
Em seguida produziram plantas geneticamente modificadas nas quais o gene OsDREB1C permanece constantemente ativado. O resultado é uma planta que “imagina” estar sempre com falta de nutrientes e com excesso de luz.
Durante dois anos plantas de arroz com o gene OsDREB1C ativado foram testadas no campo. Quando comparadas com plantas normais, produzem de 41% a 68% mais toneladas de arroz por hectare. Nessas plantas a captura de nitrogênio do solo e a fotossíntese são mais eficientes, as plantas florescem mais cedo, o número de grãos por espigas é maior, os grãos crescem mais rápido e ficam maiores.
Centenas de genes alteram seu funcionamento para que isso ocorra, e todos eles sob comando do gene OsDREB1C. Esse gene existe em todas as plantas e resultados similares foram obtidos em trigo. Tudo indica que essa descoberta pode revolucionar a agricultura no médio prazo.
Mais informações: A transcriptional regulator that boosts grain yields and shortens the growth duration of rice. Science 377, eabi8455 2022
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.