Alemanha recebe Bento XVI com protestos nesta quinta-feira

Discurso no Parlamento da República Federal e encontro com o Conselho da Igreja Luterana são os principais destaques da agenda do papa no país

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Por José Maria Mayrink - O Estado de S. Paulo
Atualização:

Um discurso no Parlamento da República Federal (Reichstag) em Berlim e um encontro com o Conselho da Igreja Luterana no antigo mosteiro agostiniano de Erfurt, onde Martinho Lutero morou cinco anos e foi ordenado padre, são os destaques da agenda da terceira viagem de Bento XVI à Alemanha, que começa nesta quinta-feira e vai até domingo.É a primeira vez que o papa fala num Parlamento, onde deverá abordar assuntos políticos, com ênfase na contribuição da Igreja Católica para a discussão de problemas mundiais e, provavelmente, no papel desempenhado pelo povo alemão nesse quadro. O Vaticano prevê manifestações de protesto de entidades que denunciaram Bento XVI e três cardeais na Corte Internacional de Haia, por alegadamente não terem tomado medidas suficientes para coibir e punir abusos sexuais e crimes de pedofilia praticados por membros do clero.Ex-arcebispo de Munique, na Baviera, antes de ser transferido para Roma, onde foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, antigo Santo Ofício, no pontificado de João Paulo II, o alemão Joseph Ratzinger, de 84 anos, visitou a região em 2006, um ano após ter viajado a Colônia para participar da Jornada Mundial da Juventude.Nessa terceira viagem, o papa irá também a Friburgo, depois de passar por Berlim e Erfurt, devendo celebrar missa em cada cidade. Em seus encontros políticos e religiosos, fará 18 discursos. Além dos luteranos, vai se reunir com representantes das comunidades judaica e muçulmana, no Reichstag.O Encontro Ecumênico com Membros do Conselho da Igreja Evangélica Alemã, seguido de celebração paralitúrgica, respectivamente na Sala do Capítulo e na igreja do antigo Mosteiro dos Agostinianos de Erfurt, criou grande expectativa nos meios católicos e luteranos, pelo fato de o papa Ratzinger visitar uma casa em que Lutero estudou e foi ordenado sacerdote.Não se deve esperar grandes mudanças imediatas nas relações entre as Igrejas de Roma e da Reforma protestante, no plano doutrinário, além do avanço alcançado por uma comissão de teólogos das duas partes chegou a um acordo sobre a questão da justificação pela fé, em 1999, pondo fim a uma controvérsia que vinha desde a época de Lutero, no século 16. A importância desse encontro ecumênico é o próprio encontro, advertiu o papa Bento XVI, na semana passada, na audiência geral, em Castelgandolfo, sua residência de verão.Algumas curiosidades, no entanto, despertam atenção. O presidente da Igreja Evangélica da Renânia, Nikolaus Schneider, e o papa Ratzinger darão a bênção final no encerramento da celebração, na realidade duas bênçãos separadas, de acordo com o rito luterano e o católico. A mestre de cerimônia será mulher, a bispa luterana Ilse Junkermann, Os participantes rezarão o Pai Nosso e recitarão um salmo em tradução alemã da Bíblia feita por Lutero."Bento XVI pode ser tão católico quanto quiserem, mas ele também é profundamente alemão e obviamente sente uma atmosfera de afeto pelo filho teólogo mais famoso do seu país", escreveu o jornalista John L. Allen Jr., no site da revista National Catholic Reporter. "Parte do drama da viagem, portanto, é a forma como Bento pode usar isso para recalibrar as relações com o protestantismo, rumo ao 500º aniversário da Reforma, em 2017", observou o norte-americano, especialista em cobertura do Vaticano.Situada na região central da Alemanha, a 238 quilômetros de Berlim, a medieval de Erfurt é um dos patrimônios arquitetônicos mais bem conservados do país. O Mosteiro dos Agostinianos (Augustinerkloster), atualmente um centro de estudos luteranos, é uma das mais importantes construções religiosas da cidade, que tem 25 igrejas paroquiais, 10 capelas e 15 mosteiros e conventos.O papa conhecerá a cela que Lutero ocupou como monge. O mosteiro deixou de ser católico em 1556 e foi reconsagrado como luterano em 1851, depois de ter sido secularizado e utilizado pela administração do governo por três séculos. Destruído por um bombardeio britânico durante a Segunda Guerra, em fevereiro de 1945, foi reconstruído entre 1946 e 1957, para ser um seminário e, posteriormente, centro de conferências. O imóvel abriga também uma pequena comunidade de monjas luteranas que seguem as regras de São Bento.

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