Ambientalistas esperam um governo socioambiental

Expectativa das ONGs é que Lula inclua a variável meio ambiente em todas as políticas de governo

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Por Agencia Estado
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A maior expectativa da comunidade ambientalista em relação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva refere-se à possibilidade da questão ambiental passar a ser um componente transversal em toda as áreas de atuação. ?Não adianta ter um bom programa de meio ambiente se ele não for inserido nas outras políticas de governo?, diz Renato Cunha, do Grupo Ambientalista da Bahia (Gambá) e coordenador da Rede de ONGs da Mata Atlântica. Para Cunha, os ambientalistas estão esperando mudanças concretas que levem a um modelo de desenvolvimento sustentável. ?Apesar do tema não ter sido muito discutido durante a campanha, o programa de governo para a área está bom, embora muita coisa precise ser trabalhada. Além disso, espero que a política de criação de empregos não incentive atividades predatórias?, diz. O coordenador da Rede espera, ainda, que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) seja fortalecido e conte com um bom orçamento. O encaminhamento da equipe de transição, na opinião do ambientalista, poderá indicar as mudanças que irão ocorrer. ?Na atual gestão, o MMA não participa das grandes decisões?. Segundo Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA), o PT foi o partido que apresentou o programa mais abrangente para a área ambiental. ?Estamos animados, porque o programa incorpora um conjunto maior de temáticas e inclui a variável socioambiental, que gera transversatilidade ao tema. Isso nos dá esperança de finalmente ter um governo que reconheça a posição estratégica da questão ambiental, incorporando-a em seu projeto de desenvolvimento para o País?, disse. Outro ponto destacado por Adriana é o fato do partido ter em seus quadros ?pessoas que tem tido papel fundamental nas articulações e discussões relacionadas às questões socioambientais, tanto no Congresso, caso da senadora Marina Silva (AC), quanto no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), caso do secretário de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, Cláudio Langone?. O trânsito nacional e internacional da senadora Marina, na área ambiental, também foi destacado por Khátia Vasconcelos, da Amigos da Terra do Rio Grande do Sul, como um fator importante. Além disso, a ambientalista também espera que o MMA e, principalmente, o Ibama comecem a ter uma participação mais efetiva. Segundo Khátia, a expectativa é de mudança para melhor. ?No Rio Grande do Sul conseguimos avançar muito no governo petista. Foi criada a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e houve o fortalecimento político e institucional do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), além de um trabalho muito importante ligado à implantação de unidades de conservação. Houve ainda um bom diálogo com as organizações não-governamentais, que esperamos que continue no próximo governo do Estado?. A pouca discussão sobre biodiversidade na campanha presidencial foi destacada por Cláudio Pádua, diretor científico do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ). ?Fiquei decepcionado com o programa de governo dos dois candidatos nessa área. No entanto, no último debate, Lula foi o único que manifestou preocupação com a biodiversidade brasileira, o que foi importante?. Destacou também a promessa do presidente eleito de administrar com as ONGs. ?Quando se fala em meio ambiente e conservação da biodiversidade, esse quesito é fundamental, pois o governo não pode atingir tudo?. Pádua manifestou preocupação de que haja a transferência de recursos da área ambiental para o combate à pobreza. ?Espero que o novo governo compreenda que estas coisas estão integradas e, se os recursos forem direcionados só para uma delas, não haverá resultado em lugar nenhum. Mas como será um governo voltado para o social, espero que isto signifique socioambiental?. Gestão da água Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas, formada por entidades do Fórum Nacional de Comitês de Bacias, diz que ?o movimento está esperançoso, apostando na possibilidade, acenada por Lula, de transformar o Palácio do Planalto em uma grande mesa de negociações?. Segundo ela, a Rede já está preparando um documento para encaminhar ao presidente eleito solicitando que reforce a Política Nacional de Recursos Hídricos nos seus preceitos fundamentais, de participação da sociedade e descentralização. ?Queremos que o novo governo deixe bem claro, também, o papel do MMA em relação à Secretaria dos Recursos Hídricos, que lhe é subordinada e deve trabalhar em conjunto com o Conselho Nacional dos Recursos Hídricos na formulação das políticas públicas de água. Também consideramos fundamental que a Agência Nacional de Águas (ANA) seja executora dessas políticas, pois tememos que possa ter seu papel confundido com um indutor de políticas públicas?, diz Malu. Para a coordenadora, atualmente a ANA tem priorizado as bacias mais contaminadas e com maior deficiência de água, como as do Paraíba do Sul e Piracicaba. ?Mas é preciso ter foco também nas bacias produtoras de água, como as nascentes do São Francisco, os mananciais da Região Metropolitana de São Paulo e até a Bacia Amazônica, com incentivos reais para quem preserva matas ciliares, por exemplo?.

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