Anunciada a seqüência completa do genoma humano

Todas as informações estão disponíveis gratuitamente na Internet, para uso da comunidade científica

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Por Agencia Estado
Atualização:

Cientistas inauguraram uma nova era na medicina e na biologia, com a divulgação da seqüência completa do genoma humano. "Depois de 3 bilhões de anos de evolução, temos à nossa disposição o conjunto de instruções que nos levam do óvulo fecundado para um ser adulto e para a cova", comemorou o pesquisador Robert Waterston, do Consórcio Internacional de Seqüenciamento do Genoma Humano, organização que representa as 18 instituições participantes do projeto. O grupo já havia anunciado um primeiro rascunho do genoma, em junho de 2000. Quase três anos depois, com os buracos preenchidos e as peças coladas, o quebra-cabeça está 99,99% concluído. Como todo ser humano é ligeiramente diferente do outro, os cientistas dizem que nunca chegarão a 100%. O mapa está completo. O anúncio marca o fim de uma das maiores empreitadas científicas da história, iniciada em 1990. Laboratórios de vários países contribuíram para o projeto, que deveria ter durado 15 anos e custado US$ 3 bilhões. No final, foi concluído em menos de 13 anos e custou US$ 2,7 bilhões, ressaltou o pesquisador Francis Collins, diretor de genoma nos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, carro-chefe do projeto. Segundo ele, a seqüência do genoma é "um presente incrível para toda a humanidade - todas as letras para o livro de construção do ser humano". Os líderes dos seis países que compõem o consórcio divulgaram um comunicado oficial enaltecendo o projeto como uma "plataforma fundamental para a compreensão de nós mesmos". Todas as informações estão disponíveis gratuitamente na Internet, para uso da comunidade científica. Segundo a pesquisadora Ana Maria Aranha Camargo, do Laboratório de Biologia Molecular e Genômica do Instituto Ludwig, o novo mapa genômico representa um "upgrade de qualidade e conteúdo" em relação ao rascunho de três anos atrás. "A primeira anotação era muito incompleta", disse. "O que temos hoje é um avanço, mas definitivamente não é o final." Falta a parte mais árdua do trabalho, que é descobrir onde está e o que faz cada gene dentro genoma. O trabalho concluído pelos cientistas foi colocar em ordem, do começo ao fim, as mais de 3 bilhões de letras químicas - A, T, C e G, - que compõem o nosso DNA. Dentro deste código genético estão embutidas as instruções para todo o funcionamento do organismo e, portanto, o ponto de partida para muitas das doenças que afligem a raça humana. Essas instruções estão escritas nos genes, os trechos "ativos" do genoma, que codificam as proteínas. Quando o Projeto Genoma Humano foi iniciado, imaginava-se que o homem teria cerca de 100 mil genes "escritos" no genoma. As primeiras análises do rascunho de 2000, entretanto, reduziram essa estimativa para cerca de 30 mil genes. Desde então, muitos novos genes foram descobertos e o debate permanece aberto. A contagem final, segundo a diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo, Mayana Zatz, deve terminar em torno de 50 mil genes. "Agora que sabemos todas as letras, vai ser muito mais fácil caçar as palavras", disse. Mas, se apenas 3% a 5% do genoma são genes, para que servem os outros 95% de letras? Inicialmente, essas seqüências foram taxadas de "lixo genético", sem função aparente. Pouco a pouco, entretanto, os cientistas estão descobrindo que elas podem atuar no controle da expressão das proteínas e, talvez, no reparo de falhas no DNA, servindo como uma espécies de "material de reserva", segundo Mayana. "Acho impossível, do ponto de vista evolutivo, imaginar que tudo isso seja lixo." São perguntas que só um estudo mais detalhado do genoma poderá responder. Ana Maria, do Ludwig, aponta que a seqüência por si só não produzirá nenhuma grande descoberta científica, mas servirá como referência para uma enormidade de pesquisas médicas, biológicas e da evolução humana.

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