Aquecimento global pode trazer El Niño permanente

Estudo mostra que no Plioceno, até 1,7 milhão de anos atrás, região do Pacífico tropical tinha características do fenôneno

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Por Agencia Estado
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O fenômeno climático El Niño poderia ser permanente no planeta se o aquecimento global persistir, advertiu um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia em artigo publicado pela revista Science. Essa conclusão é baseada no estudo do Plioceno, o último período de aquecimento global na Terra, durante o qual se uniram o que agora são América do Norte e América do Sul e se formou a camada de gelo do Ártico. O Plioceno, que começou há 5 milhões de anos e durou até 1,7 milhão de anos atrás, também se caracterizou pela migração de mamíferos através dos continentes, assim como pela aparição dos primeiros primatas na África. Nesse lapso, o Pacífico tropical estava em um estado permanente de fenômenos climáticos de persistentes precipitações pluviais e secas similares às do El Niño, disseram os cientistas. Os pesquisadores afirmaram que o Oceano Pacífico é um fator-chave no clima mundial e que nos últimos 24 anos a temperatura média de suas águas da superfície aumentou em 0,8 grau centígrado, possivelmente devido à concentração na atmosfera de gases causadores do efeito estufa. Correntes do Pacífico Uma conseqüência imediata da alteração na circulação normal das correntes do oceano e da atmosfera no Pacífico tropical é o que origina o fenômeno El Niño. Atualmente, as temperaturas normais no Pacífico tropical mostram um forte variação entre as temperaturas frias do Pacífico oriental, frente ao litoral da América do Sul, e temperaturas muito mais quentes no oeste, onde os ventos alísios aquecem as águas superficiais. Quando El Niño acontece, os ventos alísios diminuem e as águas quentes avançam pelo Pacífico tropical, debilitando de maneira drástica a variação de temperaturas. Mudanças drásticas Segundo os pesquisadores, as temperaturas superficiais durante o Plioceno eram muito parecidas às marcadas durante El Niño. "É como se (no Plioceno) houvesse um El Niño permanente", disse Christina Ravelo, professora adjunta de Ciências Oceânicas da Universidade da Califórnia. Michael Wara, diretor do estudo, afirmou que esta pesquisa reforça a idéia de que os sistemas oceânicos e a circulação atmosférica no clima mundial podem sofrer mudanças drásticas. "Muitos aspectos do sistema climático que parecem estáveis sob certas temperaturas podem mudar de maneira considerável quando se passa certo limite", indicou. "Não podemos estabelecer qual é esse limite, mas é uma preocupação à medida que continuamos este experimento global ao acumular mais gases estufa na atmosfera."   mudanças climáticas

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