
19 de fevereiro de 2009 | 17h24
O governo da presidente Cristina Kirchner anunciou que se o bispo inglês Richard Williamson não abandonar o país em 10 dias, será expulso categoricamente da Argentina. Williamson, que reside no município de Moreno, zona oeste da Grande Buenos Aires, tornou-se mundialmente famoso, nas últimas semanas, por defender enfaticamente a teoria de que o Holocausto judeu durante a Segunda Guerra Mundial jamais ocorreu, além de acusar a comunidade judaica de ter "assassinado Jesus Cristo". Veja também: Perguntas e respostas: A polêmica do bispo que nega o Holocausto Vídeo: A polêmica entrevista do bispo WilliamsonBispo diz que não vai retirar negação de HolocaustoVaticano pede que bispo que negou Holocausto se retratePapa divide Vaticano ao reabilitar bispo que nega o HolocaustoBlog de Richard Williamson Nesta quinta-feira, 19, o Instituto Nacional contra a Discriminação, Xenofobia e o Racismo (Inadi), declarou Williamson persona non grata. Na sequência, o Ministro do Interior, Florencio Randazzo, indicou que há irregularidades na documentação de residência do bispo. "Ele forjou repetidamente o verdadeiro motivo de sua permanência no país, já que declara ser um empregado administrativo da Associação Civil 'La Tradición', quando na realidade sua verdadeira atividade era a de sacerdote e diretor do seminário lefebvrista que a Sociedade Pio X possui em Moreno". Segundo o comunicado do governo, Williamson "agride, com suas declarações, a sociedade argentina, o povo judeu e toda a Humanidade, pretendendo negar uma comprovada verdade histórica". Nas últimas semanas, Williamson, em duas ocasiões - apesar de ter recebido uma reprimenda do papa Bento XVI e uma chance para retratar-se "de forma pública e inequívoca" - reafirmou suas ideias antissemitas. Segundo o bispo, as câmaras de gás foram utilizadas para "remover os piolhos dos judeus" e não para assassiná-los. O bispo também descartava os números históricos de 6 milhões de judeus mortos pelo Terceiro Reich, indicando que "no máximo morreram 200 mil". Representante na América do Sul do Lefebvrismo, a corrente conservadora católica fundada pelo arcebispo dissidente francês Marcel Lefebvre que defende os ritos pré-concílio Vaticano II, Williamsom mora desde 2003 na Argentina. Neste país, a comunidade lefebvrista teve grande apoio para instalar-se na época da última Ditadura Militar (1976-83). "Williamson ofende não somente a comunidade judaica, mas todos os argentinos com essa ideia de que o Holocausto não ocorreu", afirmou Aldo Donzis, presidente da Delegação das Associações Israelitas Argentinas (Daia). Na Argentina Williamson, além de dedicar-se à realização de missas em latim, escreve com frequência em seu blog, o "Dinoscopus", no qual defendia suas ideias antissemitas. Ali, gaba-se de seu pensamento à moda antiga e ostenta uma caricatura de si próprio, onde aparece como um dinossauro com os paramentos de bispo. Incômodo internacional A própria Sociedade de São Pio X buscou afastar-se de Williamson, retirando-o do comando do seminário argentino. Além disso, as declarações do bispo causaram constrangimento ao papa, que se viu duramente criticado por retirar a excomunhão que pesava sobre quatro bispos do movimento lefebvrista, Williamson entre eles. Para reduzir a tensão com a comunidade judaica, o papa Bento XVI veio a público diversas vezes para afirmar que qualquer minimização do Holocausto é "inaceitável", especialmente vinda de um sacerdote. A Igreja Católica está "profunda e irrevogavelmente dedicada a rechaçar todo antissemitismo", afirmou Bento XVI. "O ódio e o desprezo por homens, mulheres e crianças que se manifestou na Shoá (Holocausto) foi um crime contra Deus e a humanidade", continuou. "Isso deveria estar claro para todo o mundo, especialmente para aqueles que representam a tradição das Sagradas Escrituras." Bento XVI concluiu dizendo que "não há dúvida alguma de que qualquer negação ou minimização desse crime terrível é absolutamente inaceitável". Plano Richard Williamson já planejava deixar a Argentina ante de ser expulso pelo Governo, afirmou à Agência Efe Christian Bouchacourt, superior para a América do Sul da Fraternidade São Pio X, à qual ele pertence. "Vai acontecer o que já estava previsto: ele sair do país, como já pretendia. Tem dez dias para fazê-lo e é evidente que mudará de país", disse Bouchacourt, que não especificou qual será o novo destino de Williamson. Atualizada às 21h19
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