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Avanços da ciência não chegam a terapias contra câncer

Por Agencia Estado
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Apesar de promissoras descobertas e investimentos multibilionários manterem a indústria funcionando, a pesquisa sobre terapias para estender a vida de pacientes com câncer de forma efetiva está silenciosamente passando por uma crise. Poucas drogas são lançadas e a maioria delas é tremendamente cara e proporciona poucos dos benefícios esperados pelos pacientes. Funcionários da Agência de Administração de Remédios e Alimentos (FDA), que regula o setor nos Estados Unidos, sugerem que as falhas podem ser resultado do uso de um sistema de exames obsoleto. Existem evidências de que os raios X, padrão adotado há anos para diagnóstico, podem não avaliar a doença com precisão. A FDA está estabelecendo colaborações para descobrir novos testes de imagem, sangue e outros que possam sinalizar melhor a progressão do câncer e sejam levados à prática. "Precisamos desenvolver remédios contra o câncer de outra forma", disse a diretora de operações da agência, Janet Woodcock. "As ferramentas que dispomos não são as que precisamos no caso do câncer". Confusão global Há alguns dias, a agência aprovou o Nexavar, da Bayer, descrito como ´um grande avanço´ no tratamento do câncer nos rins. Mas a decisão só demonstra a confusão global que cerca o câncer. A fabricante do Nexavar usou justamente os raios X para determinar a eficácia de que o remédio duplicava o tempo no qual os tumores crescem substancialmente em número ou tamanho, passando de 84 para 167 dias - o que aumenta a chamada ´sobrevivência livre de progressão´. A FDA achou os resultados tão convincentes que aceitou a interrupção antes da hora dos testes conduzidos pela Bayer e recomendou que o Nexavar fosse dado aos pacientes que estavam tomando placebos. Já os responsáveis europeus pela regulamentação do remédio queriam que os testes continuassem. Eles desejavam que a Bayer provasse que o Nexavar realmente aumentava o tempo de vida, um resultado que levaria vários meses para ser determinado com o acompanhamento dos pacientes, segundo o vice-diretor da agência européia de medicamentos, Scott Gottlieb. Ele acredita que o medicamente é um bom exemplo da ciência ágil voltada ao setor. Avanços sem soluções Contudo, muito trabalho ainda precisa ser feito. "O cerne da crise na oncologia é que, durante anos, tivemos tremendos avanços científicos na análise sobre como o câncer se desenvolve. Só que nada disso está sendo traduzido em soluções práticas que estejam beneficiando pacientes no ritmo que esperaríamos", diz Gottlieb. "Veja o que o governo e os laboratórios estão gastando e, ainda assim, os remédios não chegam ao mercado. Eles estão suspensos no processo de desenvolvimento." Grupos de pacientes com câncer também pedem melhores formas de medir o sucesso de terapias contra o câncer. "Isso não significa que queremos remédios sendo oferecidos mais rapidamente", disse a presidente da Coalizão Nacional do Câncer de Mama, Frances Visco. "Isso significa que queremos uma ciência melhor, pontos extremos mais significativos e medicamentos que tenham menos toxicidade e realmente prolonguem a vida." Tempo Claro que têm havido sucessos na oncologia além do Nexavar. Drogas baseadas em platina praticamente acabaram com mortes por câncer nos testículos. O tamoxifeno e o Herceptin salvaram milhares de mulheres do câncer de mama. Testes de detecção precoce têm reduzido a taxa de mortalidade. Os pesquisadores não estão sozinhos em seus fracassos. Fabricantes de medicamentos estão em meio a uma alarmante escassez que ameaça os fundamentos da indústria. Depois de atingir o pico de lançamento em 1996 com 53 drogas no setor, o número de novos medicamentos aprovados vem caindo continuamente. Este ano, não deve passar de 17. Embora todos os campos do desenvolvimento de fármacos demonstrem sinais de estagnação, o do câncer tem vivenciado o maior abismo entre a esperança e a realidade. Somente uma em cada 20 perspectivas de cura de câncer testadas em humanos chega ao mercado, o pior registro de qualquer categoria da medicina. Entre as aprovadas nas últimas duas décadas, somente uma em cada cinco aumentam o tempo de vida de forma comprovada. E essas extensões são medidas em semanas ou meses, não em anos. Curas verdadeiras de câncer em estágio avançado ainda são excepcionalmente raras.

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