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Brasil busca liderança com sequenciamento do café

Por Agencia Estado
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Maior produtor mundial de café, o Brasil corre na frente para ser o primeiro país a decifrar o código genético da planta. Os cientistas brasileiros já contam com reconhecimento internacional por terem sequenciado geneticamente a cana-de-açúcar e as bactérias que atacam laranjais como a Xyllela fastidiosa (causadora do amarelinho) e a Xanthomonas citri (cancro cítrico). Agora, pesquisadores da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Embrapa tentam evitar que a França, que também tem seu projeto Genoma Café, passe à liderança na pesquisa genômica da planta que resulta na segunda mercadoria mais negociável no mundo depois do petróleo. Conhecer o código genético do café é o primeiro passo para obter uma planta mais resistente ao frio, à seca e às pragas. O Brasil produz dois tipos de café, o arábica e o conillon. As pesquisas devem se concentrar no arábica, que responde por 70% da produção nacional, mas particularidades do conillon, variedade resistente a um determinado parasita, serão consideradas no projeto de sequenciamento. Na primeira semana de fevereiro, os cientistas envolvidos no projeto reúnem-se no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) para dar partida ao Genoma Café. A expectativa é de que o sequenciamento esteja concluído até o final do ano. A Fapesp e a Embrapa formaram um consórcio para este projeto e responderão, cada uma, por 50% dos R$ 2 milhões previstos no orçamento inicial. O trabalho será feito pelo Centro Nacional de Recursos Genéticos (Cenargen) e a equipe do Programa Agronomical and Environmental Genome (AEG) da Fapesp, com o auxílio de entidades como o IAC e o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). A propriedade de qualquer patente que resultar do Genoma Café caberá à Fapesp e à Embrapa. O gerente técnico da Embrapa Café, José Luis Rufino, conta que a idéia de se iniciar o sequenciamento genético do café partiu do Conselho Deliberativo da Política Cafeeira, gestor do Funcafé, fundo que subsidia a lavoura e pesquisas ligadas ao setor e que tem parte repassada à Embrapa. Segundo ele, a importância do café como produto de exportação obriga o Brasil (primeiro exportador mundial), uma liderança na pesquisa genômica, a se antecipar a outros países que se dedicam ao tema, como a Colômbia, terceiro país exportador de café, que conta com a ajuda de universidades norte-americanas. "Precisamos correr sob pena de perder o bonde", diz. Mas é a França que tem o trabalho mais avançado, informa o pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Luiz Gonzaga Esteves Vieira, um dos coordenadores do Genoma Café. Segundo ele, um pesquisador daquele país deve se juntar à equipe brasileira no mês que vem para este trabalho. O projeto brasileiro do Genoma Café consistirá em sequenciar genes expressos em determinadas situações (ambiente) e tecidos (etapa de desenvolvimento) da planta. Assim, os cientistas esperam identificar genes resistentes à seca, ao ataque de insetos e a infecções. Por outro lado, ao identificar genes envolvidos na maturação, formação do fruto e genes responsáveis pela absorção de nutrientes, eles esperam descobrir um meio de obter uma planta que ofereça um grão de melhor qualidade e maior produtividade.

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