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Brasil comemora teste com inibidor de proteína contra tumor

Por Agencia Estado
Atualização:

Pesquisa realizada pela Fundação Sul-Americana para o Desenvolvimento de Novas Drogas Anti-Câncer (Soad), de Porto Alegre, testou um novo medicamento e mostrou que ele conseguiu reduzir o tamanho de tumores em pacientes tratados durante um ano e meio. A substância (chamada RC3095) foi experimentada em fase inicial em 35 doentes e, na maioria, se mostrou segura e com capacidade para limitar o crescimento de vários tipos de câncer. A fase 1 terminou em março, e os pesquisadores da Soad já selecionaram outros 90 pacientes para continuar o experimento. O estudo foi comemorado porque a nova droga usa um princípio novo e considerado revolucionário na pesquisa de câncer. A RC3095 é uma proteína que age inibindo outra proteína, que é conhecida como tipo-bombesina e é responsável pelo crescimento do tumor. A droga conseguiria, então, evitar o aumento das células cancerígenas. Esta estratégia é baseada na técnica inventada pelo médico norte-americano Judah Folkman, que virou capa da revista Time e ficou famoso porque conseguiu criar uma droga para cortar o suprimento de sangue (alimento) do tumor em ratos. "É uma forma de pensar que foi disseminada e hoje orienta o desenvolvimento de vários tipos de remédios", diz o médico Gilberto Schwartsmann, presidente da Soad e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Schwartsmann se orgulha da pesquisa e diz que essa é a primeira vez que uma equipe brasileira testa em humanos uma nova droga para câncer desde a fase inicial da pesquisa. "Geralmente os estudos internacionais só chegam ao Brasil na etapa final. Desta forma, damos aos nossos doentes mais chances de ter acesso rápido a novos remédios", afirma o médico, que entre 1989 e 1992 presidiu a Central de Desenvolvimento de Novas Drogas da União Européia. A RC3095 foi criada pelo médico norte-americano Andrew Schally (ganhador do prêmio Nobel de medicina), que fez um acordo com a Soad para que a fundação gaúcha desenvolva a droga. "Conheci o Schally quando eu trabalhava na Europa e daí nasceu a parceria", conta o médico gaúcho. Na fase 1 dos testes, a nova droga foi testada apenas em doentes que já não tinham mais alternativas de tratamento. Todas as terapias haviam falhado. Como provou ser segura e eficiente, a droga será testada (início previsto para agosto) em uma etapa mais avançada em três tipos de doentes, vítimas de câncer no pulmão, próstata e ovário, três dos tumores que mais atacam no Brasil. Os resultados da fase inicial devem ser publicados no periódico científico norte-americano Journal of Clinical Oncology. A fundação também está testando - em fase mais preliminar- um outro candidato a remédio. A substância AB5717 também age inibindo uma proteína (endotelina-1), que é responsável por estimular a ligação do tumor com os vasos sangüíneos. "Também estamos confiante nessa droga, mas esperamos os resultados da fase 1 para passar para a próxima", contou Schwartsmann. No futuro, os médicos pretendem experimentar a AB5717 em vítimas de câncer no intestino e no pâncreas.

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