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Brasil e Rússia, juntos em órbita e na exploração espacial

Presidente da Agência Espacial Russa defende parceria em artigo exclusivo para o Portal Estadão

Por Anatoly Perminov , chefe da Agência Espacial Federal da Rússia e Roscosmos
Atualização:

A Rússia desenvolve, mantém e aperfeiçoa sua tecnologia de lançamento e exploração espacial há mais de 50 anos. A experiência única, conquistada nesse período, vem sendo aplicada a vários ramos da sociedade e da economia russas. E essa experiência também vem sendo compartilhada com países latino-americanos, graças ao grande potencial científico, técnico e industrial desenvolvido com a exploração espacial pela URSS e pela Rússia, sucessora legal da União Soviética. Hoje, a estrutura da Roscosmos compreende 64 institutos de pesquisa e desenvolvimento, centros de planejamento e de produção, incluindo 37 localizados no estrangeiro. A indústria espacial russa é um dos setores industriais que mais intensivamente produzem conhecimento, gerando tecnologias avançadas e, às vezes, exclusivas. A Roscosmos implementa a política de Estado, a regulação legal e normativa das atividades espaciais; fornece serviços ao Estado e mantém a cooperação internacional em programas e projetos espaciais. Juntamente com outras autoridades russas e a Academia Russa de Ciências, nossa agência executa atividades como o fornecimento de dados precisos de posicionamento no tempo e no espaço em toda a Terra; monitoramento ambiental; monitoramento de emergências e alerta avançado; exploração de recursos naturais; comunicações globais; desenvolvimento de instalações orbitais tripuladas, incluindo o desenvolvimento e a operação da Estação Espacial Internacional (ISS), projeto do qual EUA, ESA, Canadá e Japão estão envolvidos em partes iguais (apenas três países do mundo - Rússia, EUA e China - são membros plenos do "clube da missão espacial tripulada"); validação das tecnologias de microgravidade para a produção de novos materiais; pesquisa científica no espaço próximo à Terra, espaço distante e nos planetas; desenvolvimento e aperfeiçoamento de naves, veículos de lançamento, infra-estrutura de solo, etc. A indústria espacial russa contribui muito com a geração de empregos para o povo russo. Mais de 250 mil postos de trabalho existem nas organizações e entidades do setor. A demanda por produtos russos de lançamento ao espaço e de atividade espacial continua a crescer, tanto em economias maduras quanto nas nações em desenvolvimento. A Rússia participa da preparação e desenvolvimento de equipamentos e veículos de lançamento para objetivos como o espaçoporto de Kourou, que está em planejamento para lançamentos conjuntos, entre Europa e Rússia, do foguete Soyuz-ST, para o benefício de diversos países. Ações semelhantes estão sendo empreendidas com a Coréia do Sul, no espaçoporto de Nara. Rússia e Coréia do Sul concordaram em desenvolver, conjuntamente, a instalação de lançamento sul-coreana e o foguete leve KSLV-1, no quadro do Acordo Intergovernamental de Cooperação para a Exploração e Utilização Pacífica do Espaço. Usos econômicos do espaço A eficácia da aplicação dos frutos da exploração espacial para o benefício socioeconômico da Federação Russa também aumentou. A Roscosmos criou um programa especial nesse sentido para o período 2010-1015, e que no momento está sob revisão na área econômica do governo. A idéia central do novo programa é apoiar um ambiente de introdução maciça de novos sistemas e ferramentas para o usuário, bem como de instalações em campo para o uso da tecnologia, a fim de levar os benefícios da exploração espacial para as regiões russas. O programa baseia-se em sistemas e projetos que incluem novos complexos de hardware e software para o monitoramento via satélite, a fim de auxiliar atividades de transporte, agricultura, manejo florestal e da água, além de outras áreas importantes para a economia. Esses sistemas fornecem a oportunidade de integrar as leituras feitas do espaço com informações de outras fontes. Dados dos sistemas de monitoramento são transmitidos para os centros analíticos especiais das regiões e das autoridades federais, que agrupam esses dados por território e tipo de atividade. Assim, fornecemos, ao mesmo tempo, o desenvolvimento dos instrumentos e os meio práticos para a aplicação dos frutos das atividades espaciais; fornecemos dados em apoio aos usuários, regionais e federais, de serviços espaciais. Elementos básicos para a utilização dos resultados das atividades espaciais estão sendo estabelecidos nas regiões russas. Isso inclui, ainda, o desenvolvimento do campo da navegação com alta precisão, até a escala de centímetro. Há planos para que cada região tenha seu centro de monitoramento espacial, que trabalhará no ordenamento dos dados vindos do espaço e então processará e oferecerá usos específicos para esses dados. Tais centros serão estabelecidos na Rússia no futuro próximo. Sistemas de satélite para o monitoramento de transporte são os mais utilizados atualmente. Esses sistemas contribuem muito com a sociedade. Por exemplo, o sistema agora em uso na República do Tatarstão, no sistema de ônibus urbano e escolar, já produziu uma queda de 20% nos casos de excesso de velocidade em 2008; a taxa de mortalidade por acidentes de trânsito caiu por um fator de 14. Cooperação com o Brasil A cooperação espacial Rússia-Brasil é uma das nossas metas de alta prioridade na América Latina. De acordo com declaração de Carlos Ganem, presidente da Agência Espacial Brasileira, o Brasil está iniciando uma revisão de seu programa espacial, o que inclui o conceito de desenvolvimento dos foguetes Cruzeiro do Sul, com diferentes capacidades de carga, para o período até 2020. O Brasil considera a Rússia um de seus principais parceiros no desenvolvimento do novo veículo de lançamento. A evolução, as operações e a utilização do Sistema de Navegação Global por Satélite (Glonass) russo poderá ser uma das áreas mais promissoras na cooperação entre nossos países. Esperamos ainda que nossos países continuem com a cooperação ativa nas operações de lançamento de satélites de navegação. A colaboração russo-brasileira no espaço desenvolve-se dinamicamente. Isto não surpreende: o Brasil é um poderoso país em desenvolvimento; é reconhecido como líder regional no espaço; e tem sido um parceiro confiável do programa espacial russo. Em linha com os objetivos definidos pelas lideranças governamentais da Rússia e do Brasil, nossos países têm se esforçado para desenvolver uma aliança tecnológica. Para tanto, um Programa de Cooperação Espacial foi desenvolvido; entidades industriais nos dois países começaram a colaborar em projetos definidos nesse programa. Um dos elementos mais brilhantes e notáveis do programa foi a missão para a ISS, na nave russa Soyuz, feita por Marcos Pontes, o primeiro cosmonauta brasileiro, que ocorreu em 2006. Atividades conjuntas de entidades russas e do Centro Brasileiro de Tecnologia Aeroespacial, para testar a confiabilidade e aumentar a segurança do Veículo Lançador de Satélites (VLS) brasileiro prosseguem com sucesso. Atualmente, há planos para dar continuidade à modificação desse foguete, com tecnologias do motor russo de combustível líquido. Nossos países estão prestes a implementar projetos ainda mais notáveis no espaço. Principalmente, isso cobre o desenvolvimento de equipamentos espaciais de telecomunicação; o estabelecimento de instalações para testar foguetes e naves espaciais; programas de treinamento para especialistas na área espacial. Temos prazer em saudar o interesse brasileiro em um envolvimento ativo no programa Glonass, e na utilização conjunta do sistema russo de navegação para o benefício do Brasil e outros países da região. Sabemos que o Brasil está envolvido ativamente no desenvolvimento de veículos avançados de lançamento, que serão usados para elevar veículos espaciais a diferentes órbitas. O Brasil também se preocupa muito com a evolução de foguetes que usem propelentes ecologicamente limpos. E esse preocupação é correta. Em caso de uma emergência, componentes tóxicos seriam espalhados em áreas próximas ao litoral brasileiro, ou em águas territoriais de outros países. Essa situação poderia causar conseqüências ecológicas que, no fim, gerariam não só perdas econômicas, mas um impacto negativo no cenário internacional. A parceria estratégica entre Rússia e Brasil pode, e deve, estabelecer uma base firme para uma relação ampla entre os dois países. Segurança mútua, o desenvolvimento e a prosperidade de nossas nações são os principais objetivos dessa parceria. Anatoly Perminov é parte da delegação russa que visita o Brasil na semana de 25/11

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