Brasil luta pela conservação das baleias

Delegação brasileira luta pela aprovação de dois santuários e um comitê de conservação e pela rejeição à caça científica, na reunião anual da Comissão Internacional de Baleias

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Por Agencia Estado
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O primeiro dia de votações da Comissão Internacional de Baleias (CIB), em Berlim, na Alemanha, foi de vitória para o bloco conservacionista, do qual o Brasil faz parte, e de derrota para o Japão, que pretende reabrir a caça comercial de baleias. Foi aprovado um novo Comitê de Conservação que deve tornar a agenda da CIB mais abrangente, incluindo as chamadas práticas não letais de exploração das baleias, como o turismo de observação e as pesquisas, e a preocupação com a conservação dos hábitats e recursos utilizados pelos grandes mamíferos marinhos. Amanhã, o Brasil reapresenta pela terceira vez a proposta de criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul, endossada pela Argentina. As votações prosseguem até o próximo dia 19. Nas duas primeiras votações, as propostas japonesas de exclusão de qualquer assunto conservacionista da pauta da reunião e de realização de votações secretas foram derrotadas. Durante a tarde foi votado o Comitê de Conservação, cuja criação vem sendo negociada entre 18 países - Alemanha, Austrália, Brasil, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Itália, México, Mônaco, Nova Zelândia, Portugal, Quênia, Reino Unido, San Marino e Suécia - há 10 meses. No final da última semana a proposta acabou sendo endossada também pela África do Sul, Áustria, Chile, Índia, Omã, Peru e Suíça. Sua defesa rendeu ao Brasil, Argentina, Chile, Peru e México o apelido de "bons latinos", em contraposição aos "maus latinos", que votaram com o Japão, em função de investimentos feitos pelos japoneses em suas indústrias pesqueiras em Panamá e Nicarágua. A compra de votos de países caribenhos e africanos, por meio de recursos de fundos de ajuda externa, já foi abertamente admitida pelo chefe da Agência Nacional de Pesca do Japão, Masayuki Komatsu, em entrevista a uma rádio australiana, em julho de 2001. Mesmo assim, o bloco conservacionista venceu, na votação da criação do comitê. "É um momento histórico para a CIB e uma reafirmação, pelo voto em bloco dos países latinos, que a conservação e o uso não-letal das baleias é prioridade para os países em desenvolvimento, os quais renegam a volta da caça predatória", afirmou o oceanógrafo Régis Pinto de Lima, chefe do Centro Mamíferos Aquáticos do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (CMA-IBAMA) e membro da delegação brasileira em Berlim. A delegação recebeu desenhos feitos por crianças alemãs, que se manifestavam em frente ao local de reunião e pediram a manutenção da posição brasileira pró-conservação. Amanhã, a votação dos santuários do Atlântico Sul e do Pacífico Sul promete ser mais apertada. Cada voto vem sendo cuidadosamente computado. Para a aprovação são necessários três quartos dos votos válidos e alguns países, como o Gabão, que já haviam se declarado em favor do santuário no ano passado, agora votam com o Japão, que também "conquistou" os votos de Belize e da Costa do Marfim. Os santuários são zonas de exclusão de caça e referem-se também à chamada "caça científica", praticada pelos navios-indústria japoneses.

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