20 de maio de 2008 | 15h36
O Brasil passa ao ataque no escândalo envolvendo as eleições para a direção da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) e agora já fala em uma revisão do processo. Nesta terça-feira, 20, o Estado revelou documentos da Justiça que mostram que o candidato que saiu vencedor da corrida para a milionária entidade que estabelece as leis de propriedade intelectual, Francis Gurry, abriu uma queixa na polícia alegando estar recebendo cartas difamatórias. A Justiça de Genebra decidiu então levantar sua imunidade diplomática, assim como de outros dez funcionários, embaralhando o processo e criando um escândalo. Veja também: Países podem questionar líder eleito para OMPI Brasil é visto como radical no debate sobre tema "Não há condições de a situação continuar assim. Não podemos ter toda uma cúpula da entidade sendo investigada. O processo (de eleição) terá de ser reaberto", afirmou o embaixador do Brasil em Genebra, Clodoaldo Hugueney. Na semana passada, o australiano Gurry venceu a disputa contra o brasileiro José Graça Aranha por apenas um voto de diferença, apoiado pelos países ricos que não querem perder o controle da entidade que define as patentes no mundo. A eleição deixou claro o racha que existe na comunidade internacional em relação ao futuro da propriedade intelectual. De um lado, o Brasil liderava um grupo de países emergentes na OMPI que querem uma revisão das patentes e suas funções, principalmente no setor farmacêutico. De outro, os países ricos querem endurecer a proteção das patentes ainda mais. Nas eleições, Gurry teve 42 votos, contra 41 de Graça Aranha. Mas um escândalo pode complicar a situação na entidade que tem um orçamento de R$ 1,2 bilhão por ano. Cartas enviadas a Gurry de forma anônima acusam o australiano de desvio de recursos, assédio sexual e até a compra de uma casa por US$ 4 milhões. Gurry, que é o atual vice-diretor da Ompi, avisou â polícia. Mas a Justiça de Genebra pediu que a imunidade diplomática de dez funcionários, inclusive o australiano, fosse retirada para que uma investigação pudesse ocorrer. Quem autorizou o fim da imunidade foi o diretor da entidade, o sudanês Kamal Idris, que está deixando a OMPI também por estar envolvidos em escândalos administrativos. Idris, porém, nunca aceitou ter sua imunidade retirada e, agora, aceitou a medida para Gurry, seu inimigo político. O impasse todo agora será com relação às eleições. Gurry ganhou na votação, mas seu nome seria então indicado para que a Assembléia Geral o ratificasse. Agora, se um país se opor, o processo prevê que uma nova eleição teria de ocorrer, desta vez na própria Assembléia Geral. Honduras já deixou claro que estaria disposta a ser o país a não apoiar a eleição de Gurry para que o processo seja relançado.
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