Brasil vai começar a produzir urânio enriquecido

O projeto está sendo desenvolvido em conjunto pela Marinha e pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Brasil vai começar a produzir, a partir de março do ano que vem, urânio enriquecido para ser usado como combustível pelas usinas Angra 1 e Angra 2. Até 2007, o País deverá ter condições de substituir 55% do que é consumido pelas usinas nucleares e economizar US$ 11 milhões dos US$ 20 milhões que hoje são gastos pelo governo para enriquecer o urânio natural do Brasil na Inglaterra. O projeto está sendo desenvolvido em conjunto pela Marinha e pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. A Marinha foi a responsável pelo desenvolvimento das ultracentrífugas que transformam o urânio, e a filial do INB em Resende (sul do Estado do Rio) será a sede das máquinas e responsável pela produção. Os testes das máquinas foram iniciados nesta quarta-feira, com uma cerimônia de inauguração que reuniu representantes do ministério e da Marinha. O urânio encontrado na natureza é formado por átomos U238 (99,3%) e U235 (0,7%). O U235 é aquele que tem capacidade físsil, ou seja, que pode se dividir. Enriquecimento é o nome dado a um processo de aumento da concentração do U235. O urânio enriquecido usado como combustível de usinas nucleares é o mesmo que serve para a fabricação de bombas atômicas. A diferença é o teor de enriquecimento. O combustível precisa de um urânio enriquecido de apenas 4%, enquanto uma bomba só é feita com 95% de teor de U235. A fábrica brasileira do INB não terá permissão para ultrapassar a concentração de 4%. O projeto custou R$ 140 milhões ao Ministério e está sendo comemorado pelo governo porque, além de representar economia para o País, também é considerado um marco porque o Brasil conseguiu desenvolver sua própria tecnologia de construção dessas ultracentrífugas. "Foi um avanço que tem que ser festejado. Toda a tecnologia e material é nossa", afirma Ronald Araújo da Silva, diretor de Produção de Combustível Nuclear do INB. O Brasil produz todo o minério de urânio natural necessário para o consumo das usinas. Ele é retirado da cidade de Caetité, no sul da Bahia. Mas, antes de virar combustível, o urânio vai ao Canadá para ser transformado em gás hexafluoreto e depois ruma para a Inglaterra, onde é finalmente enriquecido. Só então volta ao Brasil como combustível. A transformação em gás continuará sendo feita no Canadá, mas o Brasil vai evitar a viagem à Inglaterra. No processo inteiro, o urânio aumenta significativamente de valor: de US$ 40 o quilo do natural até US$ 1.500 o quilo do enriquecido. O INB e a Marinha não divulgam detalhes sobre as ultracentrífugas brasileiras. O projeto é considerado secreto porque a tecnologia é totalmente nacional e enriquece urânio, segundo Araújo da Silva, gastando até dez vezes menos energia do que as máquinas canadenses e européias. "Nós conseguimos um método muito mais econômico e, por isso, temos que manter segredo sobre os detalhes", afirma Araújo da Silva. O próximo passo do governo brasileiro é a produção de combustível para abastecer submarinos nucleares. A Marinha, no Centro Tecnológico de Aramar (SP), tem outras máquinas para enriquecer urânio. Além disso, o centro desenvolve um projeto de criação do primeiro submarino nuclear brasileiro. A previsão inicial é de que a Marinha consiga desenvolver o reator do submarino até 2012. O almirante Alan Arthou, diretor do Centro Tecnológico, afirma que, quando o Brasil conseguir desenvolver seu próprio reator, ele terá dois ganhos: o estratégico e o econômico. "Além de passarmos a fazer parte de uma lista de países com essa capacidade, ainda poderemos usar esse conhecimento para produzir reatores para usinas que poderiam, em tese, ser exportados e custam entre US$ 3 e 5 bilhões", explicou.

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