Brasileiros seqüenciam bactérias xanthomonas

"Isso mostra o momento extraordinário que vive a pesquisa científica brasileira e consolida nossa posição de liderança no estudo de fitopatógenos", afirma José Fernando Perez, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)

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Por Agencia Estado
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Um grupo de 65 pesquisadores brasileiros publica na edição desta quinta-feira da revista Nature o seqüenciamento e comparação dos genomas de duas bactérias aparentadas, a Xanthomonas citri, que causa o cancro cítrico, e a Xanthomonas campestri, que ataca repolho, brócoli e outros vegetais. "Isso mostra o momento extraordinário que vive a pesquisa científica brasileira e consolida nossa posição de liderança no estudo de fitopatógenos", afirma José Fernando Perez, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Foram 2 anos de trabalho e um investimento de US$ 5 milhões, dos quais 95% financiados pela Fapesp e 5% pelo Fundecitrus e CNPq. Além da USP, há pesquisadores da Unicamp, Unesp, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Centro de Citricultura Sylvio Moreira e Instituto de Tecnologia do Paraná. Comparação As Xanthomonas são o gênero mais importante de fitopatógenos, isto é, de bactérias que causam doenças em plantas. "Para cada planta de importância econômica - arroz, feijão, soja, cana-de-açúcar - há uma espécie de xanthomonas que a ataca, causando diferentes doenças ", diz Ana Cláudia Rasera da Silva, do Instituto de Química da USP, que encabeça a lista dos cientistas que assinam o trabalho. Cada uma das duas bactérias seqüenciadas tem cerca de 4.100 genes. Deste total, 85% são praticamente os mesmos nas Xanthomonas citri e campestris. Mas são os 15% restantes que podem explicar como elas agem na planta e como causam doenças. As duas têm grandes quantidades de enzimas que degradam o tecido vegetal, mas a campestri, que apodrece os tecidos que invade, tem mais dessas enzimas. Já a citri tem como característica marcante a presença de genes associados à proliferação celular. Outra classe de genes que chama a atenção dos cientistas são os associados à propagação da bactéria no hospedeiro. "É bom lembrar que a citri forma tumores na planta, colônias localizadas, enquanto a campestri se espalha pela planta", diz Ana Cláudia. É o que os pesquisadores chamam de bactéria sistêmica, capaz de invadir folhas, caules e raízes. Genes Também são valiosos os genes comuns às duas bactérias, com a mesma função, mas com diferenças sutis, que resultam em diferentes proteínas, associadas aos vegetais que infecta. A médio prazo, o estudo das xanthomonas pode levar ao desenvolvimento de melhores técnicas de diagnóstico. "Hoje, o agricultor só sabe que sua laranjeira está com cancro quando ela desenvolve sintomas, mas nesse estágio não se sabe se as árvores próximas contraíram a doença." No futuro, um teste poderá verificar quais foram contaminadas. Patenteamento "A outra linha de pesquisa é usar essas proteínas, que as bactérias empregam para invadir a planta ou se propagar dentro dela, como alvos para prevenir a infecção ou curá-la", diz Ana Cláudia. Também está nos planos dos pesquisadores paulistas concluir o seqüenciamento de outra xanthomona, a aurantifolii, que ataca apenas os limoeiros, também com financiamento da Fapesp e do Fundecitrus. As xanthomonas são importantes também para outros setores. Essas bactérias produzem a matéria-prima para espessantes utilizados na indústria alimentícia e goma xantana, um lubrificante de perfuratrizes de petróleo. Tanto que uma multinacional quis comprar a exclusividade de acesso aos dados do projeto. Todos os genes considerados relevantes para futuras pesquisas, porém, foram patenteados pela Fapesp.

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