31 de outubro de 2016 | 18h50
Com um experimento em camundongos, um grupo de cientistas dos Estados Unidos descobriu que o vírus da zika pode reduzir o tamanho dos testículos dos animais adultos infectados, alterando a produção de hormônios e diminuindo o número de espermatozoides.
O novo estudo, publicado nesta segunda-feira, 31, na revista Nature, foi liderado por Michael Diamond, da Escola de Medicina da Universidade de Washington, em Saint Louis (Estados Unidos).
Segundo os autores, camundongos machos infectados com o vírus da zika tiveram danos nos tecidos associados à redução do tamanho dos testículos, de dois hormônios sexuais e do número de espermatozoides no sêmen. Eles afirmam, no entanto, que será preciso realizar novos estudos para saber se essas consequências podem ser estendidas também a humanos infectados pelo vírus.
Além da transmissão por mosquitos, o vírus da zika pode ser transmitido sexualmente e já foi detectado no sêmen de homens afetados por longos períodos de tempo. Já foi demonstrado também em estudos anteriores que, em camundongos machos adultos, a infecção por zika chega até os testículos.
A equipe liderada por Diamond conduziu um estudo longitudinal para avaliar os efeitos da infecção por zika no aparelho reprodutivo de camundongos machos.
Sete dias após a infecção, o vírus foi detectado nos testículos e no epidídimo - um duto que coleta, armazena e transporta os espermatozoides produzidos pelo testículo. Depois de 14 dias, o vírus estava presente em altas concentrações em todo o sistema reprodutivo da maioria dos camundongos, segundo o estudo.
Os pesquisadores detectaram uma "notável redução no tamanho e peso dos testículos", entre os animais infectados com zika em comparação aos animais do grupo de controle. A infecção também produziu danos nos túbulos seminíferos - parte dos testículos onde os espermatozoides são produzidos -, além dos danos no epidídimo.
Os autores da pesquisa detectaram ainda, nos camundongos infectados, níveis reduzidos de testosterona e de inibina B, dois hormônios produzidos nos túbulos seminíferos e considerados fundamentais para a produção de esperma.
Além desses resultados, os cientistas realizaram estudos preliminares de fertilidade nos camundongos. Eles revelaram taxas reduzidas de gravidez e de fetos viáveis em fêmeas que acasalaram com machos infectados com o vírus da zika, em comparação às que acasalaram com machos não infectados.
Os autores destacam que os experimentos foram realizados exclusivamente em camundongos e que ainda será necessário realizar mais estudos para determinar em que extensão esses resultados podem ser extrapolados para humanos.
"Permanece incerto até que ponto o que foi observado em camundongos pode se traduzir também em humanos. Mas novos estudos longitudinais de função e viabilidade dos espermatozoides em humanos infectados com zika parecem ser uma necessidade", escreveram os autores.
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