CARTA ABERTA

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Por Agencia Estado
Atualização:

Ambientalistas e pesquisadores, engajados na preservação e estudos científicos do Arquipélago dos Alcatrazes, há 13 anos reunidos em torno do Projeto Alcatrazes, iniciativa da Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro, foram surpreendidos na semana passada pela notícia que a Marinha do Brasil havia sido "premiada pelo seu trabalho de preservação" no Arquipélago dos Alcatrazes. Diante dessa impropriedade, o Projeto Alcatrazes, vêm a público dar esclarecimentos a alguns fatos. A suposta premiação teria sido comunicada a Marinha através de ofício encaminhado pela Sociedade Oceanográfica de Conservação Marinha, com a participação da renomada Sociedade Cousteau. O Diretor Geral da Sociedade Oceanográfica, Marcelo Decoud, afirma que nem a Sociedade Cousteau, nem a Sociedade Oceanográfica de Conservação Marinha, outorgaram a Marinha do Brasil prêmio ou distinção alguma. A Marinha não poderia ser premiada pela preservação da natureza no arquipélago. Suas atividades em Alcatrazes, nesses últimos vinte anos, concentram-se na realização de exercícios periódicos de tiro de canhão sobre as encostas do Saco do Funil, na Ilha dos Alcatrazes, e sobre as Lajes do Pescador e da Gaivota, estas últimas localizadas em plena Estação Ecológica Tupinambás, e sob administração federal direta do IBAMA. É inconcebível que seja premiado o organismo militar responsável pela destruição no arquipélago de 25% de sua Mata Atlântica original, protegida pela constituição brasileira, onde se abrigam espécies únicas. A fiscalização da Marinha no arquipélago é exercida de forma esporádica e, embora apresente um aspecto positivo, não se pode atribuir-lhe os louros pela preservação ambiental de Alcatrazes. Por vezes, assume um caráter polêmico, chegando a extremos como multar o próprio IBAMA. As Normas de Visitação exigem que expedições científicas sejam agendadas com 60 dias de antecedência, enquanto escolas de mergulho e outras embarcações recebem facilmente autorização para freqüentar Alcatrazes. Entendemos que a presença da Marinha poderia, sim, representar um diferencial na preservação e estudo científico do Arquipélago dos Alcatrazes. Mas, decididamente, não da forma como faz no presente. Por enquanto, nós do Projeto Alcatrazes, ainda temos que observar, com uma ponta de inveja, o suporte fundamental oferecido pela Marinha do Brasil a iniciativas de pesquisa e conservação no litoral brasileiro e na Antártida. Entretanto, em todos estes anos de trabalho pela criação do Parque Nacional do Arquipélago dos Alcatrazes e pelo fim dos treinamentos de tiro, e depois de realizadas 37 expedições científicas ao arquipélago, reunimos a experiência, um grupo e, claro, resultados significativos o bastante para não esmorecer. Muito pelo contrário. As dezoito espécies de seres vivos "entre serpentes, sapos, pererecas,plantas e animais invertebrados" exclusivas em todo o mundo, e que somente existem em Alcatrazes, assim como seu notável ninhal de aves marinhas, tartarugas e cetáceos, vão continuar contando conosco em sua luta pela sobrevivência. Projeto Alcatrazes (www.alcatrazes.org.br) Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro

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