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Casca do ovo com cimento vira material de construção

Por Agencia Estado
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Desde criança César Hideo Nagumo, 21 anos, quartanista do curso de Engenharia Agrícola da Unicamp, conviveu com o pai em uma granja na cidade de Lins, interior de São Paulo. Por isso não foi difícil perceber, ao longo dos anos, os problemas acarretados pelo descarte da casca de ovo no solo. Ele estima que 3% do total da produção de ovos em granjas não são aproveitados devido a trincas e má qualidade. Nestes casos, é vendida, apenas a parte líquida do ovo e, a casca não tem qualquer aproveitamento. No incubatório de pintinhos, o problema é ainda mais grave. São geradas, em média, 25 toneladas de casca que não podem ser usadas como alimentos ou outro fim. No encontro com o professor Antonio Beraldo, o bolsista de iniciação científica, encontrou a solução, relata a Agência Brasil. Beraldo estuda as alternativas para resíduos agro-industriais desde 1989, quando participou de um programa na França. A partir da mistura do resíduo com cimento, areia e água, são produzidos blocos vazados, telhas, floreiras, bancos e outros objetos. Na França, o pesquisador se dedicou a desenvolver compósitos de biomassa vegetal, cimento com duas madeiras européias e bambu. Da investigação surgiram dois produtos já patenteados e com aplicações nos mais diferentes lugares, inclusive, em sua própria casa. São eles o CBVC e o Biokreto. No Brasil, Beraldo abriu ainda mais o leque de utilizações de rejeitos e pesquisou os resíduos de madeiras da empresa Faber Castell, casca de arroz e folha de cana. Neste momento, as pesquisas se concentram na casca do ovo. Por enquanto, o trabalho ainda precisa de outros testes para se verificar a durabilidade. Mas, Beraldo afirma que este tipo de experiência, ele prefere fazer com produtos prontos. Tanto é, que ao percorrer a Faculdade de Engenharia Agrícola, percebe-se floreiras, áreas de descanso, calçadas e até mesmo estacionamento de bicicletas feitas com os materiais alternativos e pelos próprios alunos. "A calçada, por exemplo, já tem perto de sete anos de uso", esclarece. A dificuldade no aproveitamento da casa de ovo está na película interna que não é compatível com o cimento. Por isso, Nagumo teve que realizar diversos tratamentos na casca para obter um material aproveitável. Ele fez pesquisas com o cimento comum utilizado em residências e também um cimento de alta resistência inicial, específico para confecção de placas pré-moldadas. Num segundo momento calculou a estrutura. Recorreu à tecnologia de ultrassom, ou seja, são ensaios que não necessita destruir o material para verificar sua resistência. Faltam ainda, os testes mais sofisticados de microscopia eletrônica para se verificar a impermeabilidade e durabilidade. Mas, Beraldo, por sua experiência na área, já pode afirmar que o produto pode servir para confecção de blocos vazados e placas pré-moldadas. Por isso, eles estão saindo dos experimentos em laboratórios para pedir a opi nião de profissionais e empresários do setor para se ter idéia das vantagens econômicas e obter informações da resistência aceitável para este tipo de material.

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