Católicos africanos e asiáticos veem papa Francisco como força de renovação

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Por MARINA LO
Atualização:

Católicos na África e na Ásia saudaram nesta quinta-feira a eleição do papa Francisco, da Argentina, como um avanço histórico que irá movimentar a energia vital do mundo em desenvolvimento em uma Igreja em dificuldades e amplificar a voz dos pobres do planeta. Embora tenha havido decepção de que o sucessor do papa Bento 16 não veio dos continentes africano ou asiático, as origens no Terceiro Mundo do cardeal Jorge Bergoglio estimularam esperanças de um espírito irmão entre os católicos de Manila a Maputo. A Argentina está tão longe da África e da Ásia quanto a Europa, a principal fonte de pontífices anteriores. Mas esses continentes em rápido desenvolvimento, onde a pobreza ainda paira, abrigam as comunidades católicas de mais rápido crescimento do mundo. Católicos africanos e asiáticos rapidamente se identificaram com o nome escolhido do novo papa, em homenagem a São Francisco de Assis, o santo do século 12 que rejeitou a riqueza para levar uma vida de pobreza, como um sinal de uma nova direção na Igreja global. "Este será o papa dos pobres, uma vez que ele também vem dos confins da Terra", disse Celso Dias, 39 anos, funcionário de um escritório de advocacia, ao parar para rezar na Catedral de Santo Antônio da Polana na capital moçambicana, Maputo. Nos arredores de Lagos, na Nigéria, o padre Raymond Anoliefo, que dirige uma paróquia em Ibeju, disse que estava animado ao ouvir que Bergoglio havia criticado o governo argentino por não fazer o suficiente para combater a pobreza. "Os problemas que ele tem em seu país são os mesmos que os nossos: a corrupção, a pobreza", comentou ele. "É animador ter alguém do mundo em desenvolvimento. Este é o ‘nosso papa'." Nas Filipinas, onde mais de 80 por cento da população é católica, os líderes da Igreja viram a escolha do primeiro pontífice não-europeu em cerca de 1.300 anos como um justo reconhecimento de que o rosto do catolicismo mundial estava mudando. "O papa Francisco terá uma ideia do que a Igreja enfrenta no Terceiro Mundo, onde as pessoas são pobres e mesmo assim a fé está crescendo rapidamente", disse José Palma, o arcebispo de Cebu, a maior arquidiocese nas Filipinas. "Em contraste, vemos um declínio de nossa fé na Europa mais próspera", acrescentou. "RESTAURAR A DIGNIDADE" A escolha do cardeal da Argentina serviu para reafirmar a identidade universal da Igreja Católica, afirmou o bispo de Benguela, em Angola, Dom Eugenio Dal Corso, a jornalistas. Palma viu a nomeação do papa Francisco como a sinalização de "uma renovação" para o Catolicismo, onde a moral entre alguns fieis foi duramente golpeada por um amplo escândalo de abuso sexual de crianças e brigas na burocracia do Vaticano. Congregações ocidentais têm diminuído. Enquanto isso, congregações católicas nas fervilhantes megacidades da África e da Ásia, e também nas áreas rurais do interior, estão aumentando, e muitos disseram acreditar que o papa Francisco poderia canalizar essa energia revitalizante em volta do corpo da Igreja. "O povo do Ocidente que nos converteu, que nos enviou o Evangelho, eles estão perdendo a sua fé. Nós agora somos os que devem enviar pessoas para convertê-los", disse Alfonsine Manke, um professor aposentado da Costa do Marfim, em seus 70 anos, na paróquia de São Francisco Xavier, em Abidjan. "Isso simboliza que o futuro da fé católica está no mundo em desenvolvimento ... eu realmente me sinto orgulhoso e energizado mais uma vez como católico", disse Dominic Karyarugokwo, 38, também professor, na capital de Uganda, Kampala. Os católicos africanos, que constituem cerca de 16 por cento dos 1,2 bilhão de católicos do mundo e estão entre os fieis mais conservadores, disseram que esperavam que o papa Francisco também defendesse os ensinamentos tradicionais da Igreja, como se opor ao relacionamento entre o mesmo sexo, ao aborto, à contracepção, e a sacerdotes mulheres. "Agora que temos um papa da América do Sul eu espero que ele seja não-partidário na solução desses escândalos sexuais que acontecem principalmente na Europa e na América", disse Jennifer Maina, 35 anos, que seguia para a Basílica da Sagrada Família, em Nairobi, Quênia.

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