Censo revela carência de áreas verdes nas regiões urbanas

Dados também mostram índice elevado de domicílios com péssimas condições sanitárias

PUBLICIDADE

Por Luciana Nunes Leal
Atualização:

 Às vésperas da Rio+20, Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, novos números do Censo 2010 mostram a carência de áreas verdes na área urbana do País e um índice elevado de domicílios com péssimas condições de esgotamento sanitário. Os números mostram altas taxas de iluminação pública e pavimentação. Pela primeira vez, o Censo investigou as características do entorno dos domicílios. Um terço dos domicílios em áreas urbanas não têm uma árvore sequer em seu entorno. São 14,9 milhões de moradias (32% do total pesquisado) onde vivem 50,5 milhões de pessoas (33%). A região Norte é a mais carente em áreas verdes. O índice de domicílios urbanos sem árvores no entorno chega a 63,3%. A melhor cobertura verde está nas áreas urbanas do Sudeste, onde apenas 26,5% das residências não têm árvores por perto. O levantamento leva em conta apenas as árvores existentes no entorno dos domicílios e não considera as que ficam, por exemplo, em jardins internos. A falta de área verde é muito mais acentuada nos domicílios pobres. Nas moradias com renda per capita mensal de até 1/4 do salário mínimo, 43,2% não têm árvores no entorno. O índice cai quase à metade, para 21,5%, nos domicílios de renda de mais de dois salários mínimos por pessoa. A melhor taxa de arborização está nos pequenos municípios de até 20 mil habitantes, onde 29,4% dos domicílios não têm árvores plantados ao redor. O pior desempenho é das cidades médias com população de 100 mil a 200 mil habitantes: 34,6% das residências não têm árvores no entorno. Cidade anfitriã a conferência da ONU, o Rio de Janeiro está em nono lugar em índice de arborização, entre as 15 cidades com mais de 1 milhão de habitantes. Entre os domicílios urbanos cariocas, 72,2% têm árvores no entorno. O melhor índice entre as grandes cidades é de Goiânia, com 89,5% de domicílios com árvores em volta. São Paulo está em sexto lugar, com 75,4% de residências em áreas arborizadas. ESGOTO E LIXO Pelo menos 18,5 milhões de pessoas - quase a população de Minas Gerais - vivem em áreas urbanas com esgoto a céu aberto diante de suas moradias. Elas representam 12% da população pesquisada pelo IBGE no levantamento sobre o entorno dos domicílios. Os números do Censo 2010 mostram que 11% das moradias em áreas urbanas estão próximas a valas ou córregos onde o esgoto domiciliar é despejado diretamente. São 5,1 milhões de residências. Um quarto (24,9%) dos domicílios pobres, com renda per capita mensal de até um quarto do salário mínimo, está diante de esgoto a céu aberto, proporção de cai para apenas 3,8% nas moradias com renda superior a dois salários mínimos por pessoa. Um terço (32,2%) das moradias da região Norte tem esgoto a céu aberto no entorno. A menor proporção, de 2,9%, está no Centro-Oeste. Os resultados seriam ainda piores se o levantamento incluísse todos os domicílios de favelas, mas a pesquisa excluiu as "áreas sem ordenamento urbano regular", equivalente à maior parte do território das favelas. Segundo o IBGE, foram analisados apenas os domicílios que estão em quadras ou quarteirões. Os recenseadores encontraram 2,3 milhões de domicílios (5% do total), onde vivem 8 milhões de pessoas, com lixo acumulado na parte externa, na data da coleta de dados. A iluminação pública é o item com melhores resultados e está no entorno de 96,3% dos domicílios. Pavimentação chega a 81,7% das residências, ou seja, quase 20% dos domicílios urbanos brasileiros estão em ruas sem asfalto, paralelepípedo ou outro tipo de pavimentação. PORTADORES DE DEFICIÊNCIA Entre os itens pesquisados, o que teve pior resultado foi a existência de rampa para portadores de deficiência que usam cadeiras de rodas. Apenas 4,7% dos domicílios urbanos têm rampa na quadra onde estão localizados. No entorno dos domicílios pobres, de renda de até 1/4 de salário mínimo per capita, a proporção é de apenas 1% e chega a 12% nos domicílios com mais de 2 salários mínimos per capita da renda. No Norte e no Nordeste, são apenas 1,6% de residências com rampa para cadeirantes no quarteirão. No Sul e Centro-Oeste, são 7,8%. Goiânia é, entra as cidades com mais de um milhão de habitantes, a que tem os melhores resultados no entorno. Está em primeiro lugar nos itens iluminação pública, arborização, existência de meio-fio (guia) e identificação de logradouro (placas de ruas, praças, etc). Ficou em segundo lugar em pavimentação e em quarto lugar em existência de calçada e de rampas para cadeirantes. Nos dois itens ruins, Goiânia também teve o melhor desempenho, com o último lugar em existência de esgoto a céu aberto e de lixo acumulado do lado de fora. No outro extremo, Belém teve os piores resultados em vários itens do entorno dos domicílios, entre as cidades com mais de um milhão de habitantes. Está em último lugar em iluminação, pavimentação, arborização, meio-fio (guia), calçada e identificação de logradouros (placas de ruas, praças, etc). E é a campeã em esgoto a céu aberto e lixo acumulado. Entre os domicílios da capital paraense, 44% têm esgoto a céu aberto e 10% tinham lixo acumulado no período da coleta de dados do Censo 2010. Em plena Floresta Amazônica, Manaus é a segunda grande cidade com pior índice de arborização do País. Apenas um em cada quatro domicílios (25,1%) de Manaus tem pelo menos uma árvore plantada em seu entorno, mostra levantamento do IBGE feito nos municípios brasileiros com mais de 1 milhão de habitantes. A capital do Amazonas perde apenas para Belém, onde somente 22,4% das moradias têm árvores por perto. Pela primeira vez, o Censo investigou as características do entorno dos domicílios. Dez itens foram avaliados: iluminação pública; pavimentação; calçadas; meio-fio (guia); placas de identificação de ruas, praças e outros logradouros; rampa para cadeirantes; bueiros para escoamento de água de chuva; arborização, esgoto a céu aberto e lixo acumulado. Foram analisados apenas os entornos de domicílios urbanos que estão localizados em quadras ou quarteirões. Com isso, parte das moradias de favelas ficaram fora da pesquisa. A pesquisa foi realizada em 96,9% dos domicílios particulares urbanos do País.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.