Cérebro tem 'relógio secundário' baseado na alimentação

Segundo cientistas, isso explicaria como os animais adptam seus biorritmos para não morrer de fome

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Por Efe
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O cérebro tem um relógio circadiano vinculado à alimentação além do que regula o funcionamento fisiológico do corpo baseado na luz natural, afirma um grupo de cientistas do Centro Médico Beth Israel Deaconess (BIDMC) dos Estados Unidos em um relatório publicado nesta quinta-feira, 22, pela revista norte-americana Science.   Segundo os pesquisadores, esse "relógio secundário" ajudaria a explicar a forma como os animais adaptam seus biorritmos para não morrer de fome. Os cientistas afirmam que sua existência sugere que uma mudança nas horas de alimentação poderia ajudar os seres humanos a superar os mal-estares que surgem em situações em que há um deslocamento entre regiões de diferentes fusos horários.   "Para um mamífero pequeno, encontrar alimento a cada dia é uma missão crucial", diz no texto Clifford Saper, presidente do Departamento de Neurologia do BIDMC, e James Jackson, professor de Neurologia da Escola de Medicina da Universidade de Harvard. "Poucos dias sem alimento constituem uma ameaça natural cujo resultado pode ser a morte do animal", dizem.   No relógio circadiano básico, o núcleo supraquiasmático, um grupo de células no hipotálamo, recebe sinais do ciclo de luz natural e transmite a informação a outro grupo do hipotálamo conhecido como núcleo dorso-medial.   Segundo Saper, quando o alimento existe, o sistema trabalha perfeitamente e a luz natural estabelece o biorritmo animal de acordo com o ciclo do dia e da noite. No entanto, quando não há alimento durante o período normal em que está acordado, o animal tem que se adaptar ao que tem disponível em momentos em que geralmente está dormindo.   De acordo com os cientistas, diante dessa situação de pressão, os animais parecem ter desenvolvido um relógio circadiano secundário vinculado à alimentação. "Esse novo relógio permite que eles alterem seus programas de sono para aproveitar ao máximo a oportunidade de encontrar alimentos", afirma Saper.   Em experimentos com ratos, os cientistas descobriram que um só ciclo sem alimentos pode alterar o relógio circadiano básico e adaptá-lo ao momento em que há disponibilidade alimentícia.   Segundo Saper, isso tem implicações promissoras para os viajantes e para os que precisam se submeter a mudanças constantes em turnos de trabalho. Como exemplo, o cientista diz que quem viaja dos Estados Unidos para o Japão tem que se adaptar rapidamente a uma diferença de 11 horas.   Como o relógio biológico só pode se modificar de maneira gradual a cada dia, uma pessoa demora cerca de uma semana para se acostumar. Saper ressalta que com uma mudança no programa de alimentação, o viajante pode modificar seu relógio circadiano secundário e se adaptar de maneira mais rápida ao novo fuso horário.   Segundo ele, "um período de jejum de 16 horas pode ser suficiente. Neste caso, não comer no avião e se alimentar assim que descer deve ajudar a ajustar e evitar as incômodas sensações" provocadas pelo deslocamento entre lugares de diferentes fusos horários.

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