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Cientistas anunciam seqüenciamento do arroz

Por Agencia Estado
Atualização:

Cientistas anunciaram nesta quarta-feira no Japão o seqüenciamento completo do genoma do arroz, alimento básico e diário de mais da metade da população mundial. O trabalho, realizado por um consórcio de dez países, incluindo o Brasil, será usado para o melhoramento genético do cereal, tornando-o mais resistente e, conseqüentemente, aumentando sua produtividade. Assim como no caso do genoma humano, o que os pesquisadores fizeram foi colocar em ordem todas as letras químicas, ou bases nitrogenadas, que compõem o código genético do arroz. Do começo ao fim, são cerca de 430 milhões de bases, dentro das quais espera-se encontrar entre 35 e 55 mil genes, as ?palavras? dentro do genoma que comandam a síntese de proteínas e determinam o funcionamento do organismo. Uma vez associados a características específicas, como resistência a pragas ou condições climáticas adversas, esses genes podem ser isolados e transferidos para novas variedades de planta. O genoma é o mapa que guiará esse processo daqui para frente. ?É um feito histórico, comparável à decodificação do genoma humano?, disse o primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi. ?Estou convencido de que a pesquisa genômica dará grandes contribuições para a solução de problemas ambientais e da produção sustentável de alimentos.? O Projeto Internacional de Seqüenciamento do Genoma do Arroz foi liderado pelo Japão, responsável por 55% do trabalho, EUA (18%) e China (10%). Contribuíram ainda Taiwan, França, Índia, Coréia do Sul, Tailândia, Reino Unido e Brasil, cuja participação foi coordenada pelo pesquisador Antonio da Costa Oliveira, da Universidade Federal de Pelotas. Outros três rascunhos do genoma do arroz foram publicados nos últimos dois anos, pelas empresas Monsanto, Syngenta e um grupo de pesquisadores da China. O trabalho apresentado pelo consórcio, entretanto, é o mais completo e confiável de todos, com 99,99% de precisão. Além disso, o seqüenciamento vem acompanhado dos mapas genético e físico do genoma. O primeiro indica a localização de cada gene e o segundo, a posição de cada pedaço do genoma dentro dos cromossomos. ?Com esse tripé, a capacidade de desenvolver novas variedade é muito maior?, explica o geneticista Márcio Elias Ferreira, especialista em cereais na Embrapa e na Universidade Católica de Brasília. ?O consórcio oferece um conjunto de informações muito expressivo para a próxima fase da pesquisa, que é relacionar cada gene a sua função dentro da planta.? O seqüenciamento do arroz não terá conseqüências apenas econômicas, mas sociais. Cerca de 55% da população do mundo se alimenta diariamente deste cereal. No Brasil, o consumo per capita está entre 75 e 80 quilos por ano ? não muito menos do que na China, onde cada habitante come de 90 a 95 quilos de arroz por ano, segundo Ferreira. As informações genéticas contidas no genoma do arroz servirão também para o melhoramento de outros cereais, como o milho e o trigo. Esse é o objetivo do projeto Origens, lançado este mês pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), com a participação de 13 instituições públicas e privadas. ?Vamos buscar identificar e isolar genes que controlam características complexas no arroz e usá-los de isca para pescar os mesmos genes no milho e no trigo?, explica o pesquisador Márcio Elias Ferreira, coordenador do projeto. Dado o parentesco evolutivo destes cereais, espera-se que eles compartilhem muitos de seus genes. Além disso, o genoma do arroz é muito menor e melhor estudado que o das outras plantas, o que facilita o trabalho. Os principais alvos dos pesquisadores serão genes que conferem resistência ao frio e à seca, os dois principais problemas climáticos que afetam a produção brasileira de arroz, hoje em torno de 11 milhões de toneladas. A cultura é a terceira mais importante do País, depois do milho e da soja. Mais de 50% da produção está concentrada no Rio Grande do Sul.

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