Cientistas atacam morte súbita dos laranjais

Segundo estimativas do Fundo de Defesa da Citricultura, a morte súbita já destruiu mais de 1 milhão de árvores, com prejuízo estimado de US$ 20 milhões. A doença foi identificada há cerca de dois anos, no sul de Minas, e as árvores infectadas morrem dois meses após os primeiros sintomas

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Por Agencia Estado
Atualização:

A morte súbita, doença que está se espalhando rapidamente pelas plantações de laranja de Minas e São Paulo, é, ao que tudo indica, causada por uma mutação do vírus da "tristeza dos citros", que dizimou os laranjais paulistas entre os anos 30 e 50. A conclusão é de pesquisadores da Alellyx, empresa de biotecnologia criada há cerca de um ano por um grupo de pioneiros da pesquisa genômica no meio acadêmico. Em apenas quatro meses, eles completaram o seqüenciamento genético de 400 variantes do vírus tristeza. Os dados genômicos revelam características importantes para o combate do vírus. Segundo estimativas do Fundo de Defesa da Citricultura, a morte súbita já destruiu mais de 1 milhão de árvores, com prejuízo estimado de US$ 20 milhões. A doença foi identificada há cerca de dois anos, no sul de Minas, e as árvores infectadas morrem dois meses após os primeiros sintomas. As características são muito parecidas com as da tristeza e, por enquanto, não existe cura. "O vírus se espalha com extrema rapidez", afirma o pesquisador Fernando Reinach, um dos diretores da Alellyx. "A citricultura está em pânico." Se, como no caso da tristeza, a morte súbita for transmitida pelo pulgão, a situação poderá ficar ainda pior. "O pulgão você não consegue exterminar, só controla", explica Reinach. "É uma batalha constante." Por isso a importância de desenvolver alternativas de controle, além do inseticida. No passado, depois de arrasar 80% da produção cítrica de São Paulo, a tristeza foi combatida com uma vacina, desenvolvida a partir de uma forma viva do próprio vírus, que permanece até hoje nas árvores. Em busca de uma solução, os cientistas da Alellyx seqüenciaram o genoma de 200 variantes do vírus extraídas de dez árvores infectadas pelo nova forma da doença e outras 200, de árvores infectadas apenas pelo vírus da vacina. A principal suspeita era de que o vírus da vacina tivesse mutado, dando origem à morte súbita. "A árvore é como uma pessoa infectada pelo HIV: o vírus sofre mutações e você precisa trocar o remédio", diz Reinach. A comparação dos 400 genomas confirmou as suspeitas. Os vírus presentes nas árvores doentes são diferentes geneticamente dos presentes nas árvores vacinadas. "É uma indicação muito forte de que a mutação é responsável pela nova doença", afirma Reinach. O próximo passo é introduzir o vírus em árvores sadias e verificar se provoca a morte súbita. Confirmada essa etapa, os pesquisadores vão trabalhar sobre os pontos fracos do vírus para descobrir formas eficientes de controle, que vão de vacinas a novos métodos de manejo do pomar. "Com esses resultados podemos desenvolver testes para diagnosticar a doença antes dos primeiros sintomas, assim como criar árvores mais resistentes", diz Reinach. Um prazo razoável para as primeiras soluções, segundo ele, é de pelo menos dois anos. O seqüenciamento do genoma do vírus e as fases seguintes da pesquisa estão sendo financiadas pela Citrovita, do Grupo Votorantim, uma das maiores exportadoras de suco de laranja do País. O fundo de capital de risco do grupo, o Votorantim Ventures, é acionista da Alellyx. Até agora os estudos consumiram R$ 3 milhões em investimentos. No dia 7, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o secretário de Agricultura de São Paulo, Duarte Nogueira, e o governador Geraldo Alckmin se reunirão para determinar como o governo vai agir para conter a morte súbita.

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