PUBLICIDADE

Cientistas dão início à recriação do Big Bang

Por ROBERT EVANS
Atualização:

Cientistas do mundo todo comemoraram o fato de ter corrido tudo bem ao ser ligada, na quarta-feira, uma gigantesca máquina de colidir partículas que pretende recriar as condições do Big Bang, a grande explosão que teria dado início ao universo. Os experimentos com o Grande Colisor de Hádrons (LHC), a maior e mais complexa máquina já fabricada, poderia dar uma nova cara ao mundo da física e revelar segredos sobre o universo e suas origens. Os envolvidos no projeto precisaram esforçar-se para negar sugestões feitas por alguns de que o experimento poderia criar pequenos buracos negros de intensa gravidade capazes de sugar o planeta todo. Tais temores, alimentados por escritores apocalípticos, fizeram ampliar o interesse geral na física das partículas antes de a máquina ser ligada. No entanto, cientistas de peso consideraram tais especulações "sem sentido". A estréia do LHC, que custou 10 bilhões de francos suíços (9 bilhões de dólares), registrou-se como um ponto de luz em uma tela da sala de controle da Cern (Organização Européia de Pesquisa Nuclear), por volta das 9h30 (4h30, horário de Brasília). "Temos um raio dentro do LHC", disse Lyn Evans, chefe do projeto, a seus colegas, que começaram a aplaudir ao ouvirem a notícia. Os físicos e técnicos reunidos na sala de controle comemoraram em alto e bom som uma hora mais tarde quando o raio de partículas completou o trajeto horário do acelerador, concluindo com sucesso a primeira missão importante do LHC. Os cientistas pretendem enviar raios de partículas em direções contrárias a fim de provocar pequenas colisões a uma velocidade próxima à da luz -- essa é uma tentativa de recriar em pequena escala o calor e a energia do Big Bang, um conceito sobre a origem do universo aceito por quase toda a comunidade científica. O Big Bang teria ocorrido 15 bilhões de anos atrás quando um objeto imensamente denso e quente do tamanho de uma pequena moeda explodiu no vácuo, emitindo matéria que se expandiu rapidamente afim de criar as estrelas, os planetas e, um dia, a vida na Terra. PEQUENO SOLUÇO Problemas com os ímãs do LHC fizeram com que sua temperatura -- mantida a 271,3 graus Celsius negativos -- variasse um pouco, adiando o envio de um raio de partícula no sentido anti-horário. O raio começou a avançar, mas acabou sendo interrompido em sua trajetória. "Isso é como um soluço. Não é nada demais", afirmou a repórteres Rudiger Schmidt, chefe da comissão de hardware da Cern, acrescentando que a segunda rotação deve ser realizada na quarta-feira à tarde. Evans, que usava jeans e tênis, não quis dizer quando se iniciariam as colisões altamente energéticas. "Eu não sei quanto tempo vamos levar para chegar lá", afirmou. "Segundo penso, o que vimos hoje de manhã prenuncia que caminharemos muito rapidamente. Essa é uma máquina extremamente complexa. As coisas podem sair dos eixos em qualquer momento. No entanto, hoje de manhã, tivemos um início promissor." Quando o experimento de colisão de partículas ganhar velocidade total, os dados sobre a localização de partículas (com precisão de alguns milionésimos de metro) e sobre a passagem do tempo (com precisão de bilionésimos de segundo) mostrarão como as partículas se aproximaram, se distanciaram ou se dissolveram. É nesse cenário que os cientistas esperam encontrar dentro em breve uma partícula conhecida como bóson de Higgins, cujo nome homenageia o cientista escocês Peter Higgins, responsável por criar o conceito a respeito dela em 1964. A partícula poderia elucidar o mistério sobre como a matéria ganha massa. Sem massa, as estrelas e os planetas do universo nunca poderiam ter adquirido sua forma depois do Big Bang, e a vida nunca poderia ter surgido -- na Terra ou, caso exista, em outros planetas conforme crêem muitos cosmólogos, tampouco em qualquer lugar. (Reportagem de Robert Evans)

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.