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Cientistas descobrem ancestral bípede dos crocodilos

Réptil que viveu há mais de 230 milhões de anos era o principal predador da América do Norte, antes da chegada dos dinossauros

Por Fabio de Castro
Atualização:

SÃO PAULO - Cientistas anunciaram a descoberta de um ancestral dos crocodilos que foi o grande predador da América do Norte, antes dos dinossauros aparecerem no continente. Com 2,75 metros, o animal tinha a aparência de um crocodilo, mas andava sobre as patas traseiras. O novo réptil, que viveu há mais de 230 milhões de anos, foi descoberto no Estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e recebeu o nome de Carnufex carolinensis, que significa "Carniceiro da Carolina". 

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De acordo com os autores do estudo, o Carnufex provavelmente tenha sido o predador de animais menores que viviam nos ecossistemas da região, como os primeiros ancestrais dos mamíferos e répteis dotados de carapaças.

A descoberta, realizada por paleontologistas da Universidade Estadual da Carolina do Norte e do Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte, foi publicada na Scientific Reports, uma revista científica de acesso aberto mantida pelo grupo que edita a Nature.

Uma visão artística de como teria sido o 'Carnufex carolinensis' Foto: Jorge Gonzales

Os cientistas descobriram partes do crânio, da coluna vertebral e dos membros superiores do Carnufex na Formação Pekin, na Carolina do Norte. Como o crânio estava em pedaços, era difícil visualizar como deveria ter sido sua aparência em vida.

Os pesquisadores, portanto, escanearam cada osso com uma tecnologia de imageamento de alta resolução. A partir dessa técnica de última geração e de crânios mais bem preservados de parentes próximos do Carnufex, foi possível criar um modelo tridimensional do crânio reconstruído do novo réptil.

A Formação Pekin contém sedimentos depositados há 231 milhões de anos, no início do período Triássico Superior, que é conhecido como Idade Carniana. Na época, a Carolina do Norte era uma região úmida, quente e equatorial, que começava a se separar do supercontinente Pangeia. 

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"Os fósseis desse período são extremamente importantes para os cientistas, porque eles registram o mais primitivo aparecimento dos crocodilomorfos e dos dinossauros terópodes - os dois grupos que primeiro evoluíram no período Triássico e que conseguiram sobreviver até os dias de hoje, na forma de crocodilos e aves", disse a autora principal do estudo, Lindsay Zanno, professora da Universidade Estadual da Carolina do Norte. "A descoberta do Carnufex, um dos maiores e mais primitivos crocodilomorfos, acrescenta informação inédita sobre a competição entre os grandes predadores da Pangeia."

O crânio reconstruído do 'Carnufex carolinensis'. Os modelos 3D dos ossos do crânio estão apresentados em branco; as áreas cinzentas são elementos que estavam faltando e foram reconstruídos a partir de parentes próximos do novo réptil Foto: Lindsay Zanno

Os típicos predadores que vagavam pela Pangeia incluíam os Rauisuchideos e os Poposaurideos, temidos parentes dos crocodilos primitivos que foram extintos no período Triássico. De acordo com Zanno, no Hemisfério Sul, esses animais caçavam na companhia dos primeiros dinossauros Terápodes, gerando uma sobreposição de predadores.

No entanto, a descoberta do Carnufex indica que, ao norte, os grandes crocodilomorfos - e não os dinossauros - estavam no topo da cadeia de predadores.

"Já sabíamos que havia vários grandes predadores lutando pelo domínio no início do Triássico Superior. Mas, até decifrarmos a história por trás do Carnufex, não estava claro que os primeiros ancestrais dos crocodilos estavam competindo pelo topo da cadeia de predadores antes do reino dos dinossauros na América do Norte", afirmou Zanno.

À medida que o Triássico se aproximava do fim, a extinção dizimou essa miríade de predadores e apenas crocodilomorfos pequenos e terópodes sobreviveram. "Os terópodes eram candidatos prontos para as vagas que foram abertas no topo da cadeia de predadores, quando os grandes crocodilos e seus parentes desapareceram. Os dinossauros predadores passaram a preencher essas vagas com exclusividade nos 135 milhões de anos seguintes", disse Zanno.

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