Cientistas descobrem como o embrião adere ao útero

Pesquisadores nos Estados Unidos acreditam ter solucionado uma parte importante do mistério, que poderá levar, de um lado, a novos tratamentos para a infertilidade e de outro, a novos métodos contraceptivos

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Por Agencia Estado
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Por mais modernas que sejam as técnicas de fertilização assistida, hoje, uma das etapas fundamentais da reprodução humana ainda é uma incógnita para a ciência: como o embrião adere à parede do útero para dar início à formação do feto e da placenta. Pesquisadores nos Estados Unidos acreditam ter solucionado uma parte importante do mistério, que poderá levar, de um lado, a novos tratamentos para a infertilidade e de outro, a novos métodos contraceptivos. "A grande pergunta no campo da reprodução é porque o embrião se implanta no útero algumas vezes e outras, não", diz o presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, Selmo Geber. "Em alguns casos acredita-se que a falha esteja no embrião, na maioria das vezes não temos idéia." A resposta, diz, pode estar nos mecanismos de interação química entre embrião e endométrio, a parede interna do útero. É aí que entra a pesquisa americana, publicada este mês na revista Science. Os pesquisadores descobriram que o embrião no estágio inicial está coberto com a proteína L-selectina e que a parede do útero, poucos dias após a ovulação, está repleta de moléculas de açúcar (carboidratos). Em contato, as duas se encaixam, prendendo o embrião ao endométrio. "Este é provavelmente um dos primeiros estágios da gravidez, se não for o primeiro", disse ao Estado a pesquisadora Susan Fisher, da Universidade da Califórnia em São Francisco, autora principal do estudo. Afinal, o embrião só formará um feto se conseguir se prender ao útero. Susan compara o processo a uma bola de tênis rolando sobre uma poça de mel: a velocidade da bola vai diminuindo, até que ela pára e fica grudada. "É uma aderência relacionada ao movimento, na qual as ligações se formam e se quebram com a mesma rapidez", explica a pesquisadora. Segundo ela, as duas moléculas de encaixe - a L-selectina e os açúcares - só estão presentes durante um breve período, conhecido como "janela de implantação", no qual a gravidez pode ou não ir adiante. Tudo começa com a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, ainda dentro da trompa ovariana. Durante os seis dias seguintes, o embrião desce para o útero e fica "solto", procurando uma oportunidade para se fixar ao endométrio. "Ele fica como uma bola de gude, rolando até encontrar um encaixe", compara Geber. A janela de implantação ocorre durante esse período, mas ninguém sabe ao certo quando ela se abre ou quanto tempo permanece aberta. Uma coisa é certa: o tempo é curto. "Realmente, não é nada fácil fazer um bebê - entre 50% e 60% das fecundações humanas não chegam à gravidez", afirma Susan. A pesquisa abre caminho para uma série de aplicações no tratamento da infertilidade. Segundo Geber, cerca de 10% dos casos de esterilidade são "inexplicados" - ou seja, o casal não consegue engravidar mesmo quando tudo parece funcionar. Como não se sabia quase nada sobre a implantação do embrião no útero até agora, são grandes as chances de que o problema ocorra nessa etapa. As informações também serão úteis para as técnicas de reprodução por fertilização in vitro, na qual os embriões são produzidos em laboratório e depois transferidos para o útero da mãe. "Se pudermos usar a L-selectina para selecionar os embriões mais aptos para implantação, poderíamos diminuir o número de embriões transferidos e, conseqüentemente, o número de gestações múltiplas", afirma Geber. Outra possibilidade seria usar a concentração de açúcares no útero para determinar o momento em que ele está mais receptivo ao embrião. Ou então, fazer o caminho inverso, e criar um medicamento para impedir a implantação do embrião no útero.

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