Cientistas descobrem cratera semelhante à formada por asteroide que extinguiu dinossauros

O impacto causado teria criado, na costa da Guiné, uma parede de água da altura de um arranha-céu e uma explosão cem vezes maior que bombas nuclerares

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Por Robin George Andrews
Atualização:

Uma cratera formada na era dos dinossauros e semelhante à causada pelo meteoro que causou a sua extinção pode ter sido encontrada na África. Na quarta-feira, 17, cientistas relataram na revista Science Advances que um enorme fosso na costa da Guiné, na parte ocidental do continente, tinha todas as características de uma cratera feita pelo impacto de um meteoro. Muito mais largo do que profundo, algumas de suas rochas foram violentamente rachadas e dobradas sobre si mesmas, e o pico rochoso em seu centro é geralmente formado por um fluxo de rochas movendo-se como se fossem líquidas.

A idade exata da suposta cratera de asteroide, batizada de Nadir, ainda não foi determinada. Com base em sua posição nas camadas geológicas da Terra, ela pode ter se formado em um período próximo à formação da Chicxulub – o abismo de 160 quilômetros de largura sob o Golfo do México, escavado pelo asteroide de 10 quilômetros de comprimento que causou devastação global e pôs fim à era dos dinossauros. 

Cratera de impacto Chicxulub: imagem de relevo mostra o abismo de 160 quilômetros de largura sob o Golfo do México, escavado pelo asteroide de 10 quilômetros de comprimento que causou devastação global e pôs fim à era dos dinossauros. Foto: Nasa/JPL

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A cratera pode abrir uma janela para um capítulo do passado da Terra, revelando como o mundo resistiu ao bombardeio espacial durante uma mudança de regime ecológico em todo o planeta. Devido à capacidade da Terra de alterar frequentemente sua superfície por meio de erosão, erupções e placas tectônicas, as crateras de impacto, formadas por meteoritos, são muitas vezes difíceis de identificar. Uisdean Nicholson, geólogo da Universidade Heriot-Watt, na Escócia, e um dos autores do estudo, descobriu Nadir por acaso. 

Ele estava folheando mapas da estrutura subterrânea da região. “Foi quando me deparei com esse objeto e pensei: ‘Isso é incomum'”, disse Nicholson. O geólogo e seus colegas estimam que o projétil que mergulhou nas águas da costa oeste da África era um asteroide rochoso de 400 metros de comprimento, movendo-se a 20 quilômetros por segundo. Seu impacto teria desencadeado uma explosão equivalente a 5.000 megatons de TNT, 100 vezes mais energia do que o dispositivo nuclear mais potente já detonado. Qualquer animal próximo da costa “veria outro sol”, disse Veronica Bray, cientista planetária da Universidade do Arizona e também autora do estudo. 

Qualquer coisa perto o suficiente seria atingida por uma rajada de vento de mais de 3.200 quilômetros por hora “poderosa o suficiente para dobrar um carro em torno de um poste”, disse Bray. Uma parede de água da altura de um arranha-céu iria em direção à costa a 1.500 quilômetros por hora. Em seguida, a água expelida do oceano pelo impacto cairia na cratera ainda em formação, espirrando a uma altura de 2 mil metros de altura no ar antes de cair e criar outro tsunami. 

A equipe considerou outros fenômenos que poderiam ter criado a cratera, incluindo um encontro hiperexplosivo entre magma e água, mas, até agora, o impacto causado por um meteoro é a hipótese mais provável. “A evidência geofísica de uma cratera de impacto é bastante sólida”, disse David Kring, geólogo planetário do Instituto Lunar e Planetário de Houston, que ajudou a confirmar a hipótese de extinção dos dinossauros pelo meteoro de Chicxulub, mas não esteve envolvido no estudo. 

As crateras que parecem crateras de impacto às vezes não as são. A única maneira de saber com certeza – inclusive no caso de Nadir – é realizar perfurações e procurar por sinais desse impacto. Todo o resto é apenas “especulação construída sobre especulação”, disse Ludovic Ferrière, especialista em meteoritos e impactos do Museu de História Natural de Viena, que também não esteve envolvido no estudo. Essa especulação inclui a idade de Nadir, os efeitos causados por seu impacto e a hipótese de que seu meteoro estaria relacionado ao de Chicxulub de alguma forma, com ambos vindos da fragmentação da mesma rocha espacial gigante. 

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O que é certo, porém, é que Nadir está longe de ser excepcional. Esses impactos “ocorrem a cada 50.000 a 100.000 anos”, diz Kring, o que significa que até uma dúzia de meteoros de tamanho semelhante colidiram com a Terra nos anos crepusculares da era dos dinossauros. Nadir foi “insignificante para as extinções do final do Período Cretáceo”, afirma Kring. Mas esses eventos de impacto destrutivo são “uma ocorrência geológica bastante comum” – informação pouco reconfortante para aqueles que vivem na Terra hoje. /TRADUÇÃO DE RAISA TOLEDO

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