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Cientistas descobrem lendário tesouro submerso na China

Mais de 10 mil itens de ouro e prata, além de joias requintadas da dinastia Ming, foram encontrados sob o leito de um rio no sudoeste chinês

Por Fabio de Castro
Atualização:
Uma das inúmeras moedas de ouro encontradas na escavação; mais de 10 mil objetos de ouro e prata foram encontrados sob o leito do rio Min Foto: Chen Xie / Agência Xinhua

Cientistas comprovaram a veracidade de uma lenda chinesa de mais de 300 anos, depois de analisarem um conjunto de mais de 10 mil itens de ouro e prata - além de joias finamente trabalhadas -,descobertos sob o leito de um rio no sudoeste da China. As informações foram reveladas pela Xinhua, a agência de notícias oficial do governo chinês.

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Os pesquisadores afirmam que os objetos confirmam a existência do tesouro perdido de Zhang Xianzhong, um legendário líder camponês do século 17. Segundo relatos históricos, em 1646, ao tentar transferir suas tropas e seus bens para outra região, Xianzhong foi derrotado pelos exércitos da dinastia Ming.

Segundo a lenda, seus mais de mil barcos afundados na batalha estavam repletos de tesouros. Mas, ao longo dos séculos, nenhuma evidência confiável da existência desse tesouros jamais havia sido encontrada.

"Os objetos descobertos são a evidência mais direta e convincente para a identificação da área onde a batalha foi travada", afirmou o arqueólogo chinês Wang Wei. O local da descoberta fica na intersecção dos rios Min e Jin, 50 quilômetros ao sul de Chengdu, capital da província de Sichuan.

De acordo com os arqueólogos, várias das inscrições chinesas gravadas nos utensílios de ouro e prata ainda estão preservadas e os padrões em alto-relevo nas joias revelam um artesanato requintado.

"Os itens encontrados incluem grandes quantidades de moedas de ouro, prata e bronze, joias e armas de ferro, como espadas, facas e lanças", disse Gao Dalun, diretor do Instituto de Pesquisas em Arqueologia e Relíquias Culturais da Província de Sichuan.

Ladrões. Os primeiros objetos de valor foram encontrados no local em 2005, quando trabalhadores de obras de construção civil descobriram lingotes de prata no leito do rio. Depois de um estudo preliminar, o governo local declarou a área sítio protegido, em 2010, mas uma escavação abrangente foi sucessivamente adiada enquanto os especialistas discutiam a localização da lendária batalha na qual a esquadra foi dizimada.

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Os caçadores de tesouros, porém, não tiveram a mesma paciência: durante vários anos eles utilizaram equipamentos de mergulho para localizar e roubar os tesouros nas águas do rio.

Só em 2015 a polícia local realizou uma grande investigação de larga escala, ao longo de todo o ano, prendendo 31 suspeitos e confiscando milhares de moedas e lingotes de ouro e prata, além de uma grande quantidade de equipamentos de mergulho.

Os especialistas se convenceram de que seria impossível impedir os saques no longo e amplo trecho fluvial onde fica o sítio arqueológico - e fizeram um apelo ao governo para uma escavação imediata do local.

Escavações continuam. O governo da província de Sichuan iniciou o projeto em janeiro de 2017, assim que chegou a estação seca. Em meados de março, uma área de 10 mil metros quadrados já havia sido escavada.

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Inúmeras bombas hidráulicas foram utilizadas dia e noite para drenar a água do local. Centenas de metros do leito do rio afloraram e os arqueólogos cavaram até uma profundidade de cinco metros, encontrando finalmente a maior parte do tesouro.

"Os itens são extremamente valiosos para a ciência, a história e a arte. Eles têm grande significado para a pesquisa sobre a vida política, econômica, militar e social da dinastia Ming", disse o arqueólogo Li Boqian, da Universidade de Pequim.

Segundo os pesquisadores, a escavação seguirá até abril e espera-se que sejam desenterrados novos itens. O governo local informou que está avaliando a construção de um museu próximo ao local, para preservar e proteger a valiosa descoberta.

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História de aventura. Em 1643, na província de Hunan, enquanto a dinastia Ming (1368-1644) se esfacelava em meio a crises políticas e invasões inimigas, Xianzhong liderou uma revolta camponesa e, aproveitando a fragilidade do regime, formou um exército de 100 mil soldados e tentou estabelecer seu próprio reino. 

No ano seguinte, derrotado, o líder camponês conquistou a província de Sichuan, mais a oeste, que governou com notória selvageria, segundo seus detratores.

Em 1646, sem condições de manter o território - depois de centenas de milhares de baixas nas batalhas e com a impopularidade de seu regime sanguinário - Xianzhong tentou transferir suas tropas e bens para sua terra natal, a província vizinha de Shaanxi, a nordeste.

Os novos governantes da China - da dinastia Qing, que acabara de substituir a dinastia Ming -, enviaram então tropas para interceptar a esquadra. Os navios fugitivos foram dizimados. Em 1647, traído por um de seus oficiais, Xianzhong seria atacado e morto.

Desde então disseminou-se na província de Sichuan a lenda - agora confirmada como fato real - de que o imenso tesouro de Xianzhong estaria sob as águas do rio Min.

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