Cientistas descobrem 'Monstro de Collins'

Verme primitivo coberto de espinhos viveu há 500 milhões de anos, tinha pernas, garras e se alimentava filtrando nutrientes da água

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Por Fabio de Castro
Atualização:

Um grupo de cientistas descobriu, na China, o fóssil de um verme que possuía pernas e tinha o corpo coberto por afiados espinhos. Para se alimentar, o inusitado animal filtrava nutrientes nos oceanos utilizando suas pernas dianteiras, que tinham formato de penas. Segundo os autores do estudo, publicado nesta segunda-feira, 29, na revista científica PNAS, o verme viveu há cerca de 500 milhões de anos e foi um dos primeiros animais a desenvolver uma armadura de proteção contra os predadores e a utilizar um mecanismo de alimentação especializado.

A nova espécie foi batizada de Collinsium ciliosum e ganhou o apelido de "Monstro de Collins", em homenagem ao paleontologista canadense Desmond Collins, que descobriu um fóssil semelhante na década de 1980. O Collinnsium viveu durante a chamada explosão Cambriana, um período de rápido desenvolvimento evolutivo, há cerca de meio bilhão de anos, quando a maior parte dos grupos animais aparece pela primeira vez em registros fósseis.

Fóssil do Collinsium ciliosum, que viveu há 500 milhões de anos na região onde hoje é a China Foto: Jie Yang

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Os cientistas descobriram, no sul da China, um fóssil notavelmente bem conservado, que inclui detalhes de toda a organização do corpo, do trato digestivo e até mesmo a delicada cobertura de estruturas parecidas com pelos em uma das extremidades do animal. A análise mostrou que se tratava de uma nova espécie.

Segundo os pesquisadores, o corpo do Monstro de Collins era mole, com seis pares de pernas dianteiras semelhantes a plumas e nove pares de pernas traseiras com garras. Como as pernas traseiras não eram adequadas para andar no fundo lamacento do oceano, é provável que o Collinsium usasse suas garras para viver agarrado a esponjas ou outros organismos, filtrando os alimentos no mar com as patas da frente. Alguns animais modernos, como o camarão-bambu, alimentam-se dessa maneira, capturando os nutrientes com seus braços em forma de leque.

Por causa de seu estilo de vida e do corpo mole, o Monstro de Collins provavelmente era uma presa fácil, segundo os cientistas. Por isso ele teria desenvolvido um impressionante mecanismo de defesa, que contava com 72 espinhos afiados e pontiagudos com vários tamanhos.

Uma análise detalhada do Monstro de Collins revelou que ele é um distante ancestral dos chamados vermes aveludados, ou onicóforos, um pequeno grupo de animais existente em florestas tropicais.

"Os vermes aveludados modernos são semelhantes entre si em relação à organização do corpo. Mas durante o período Cambriano, os parentes distantes desses vermes eram incrivelmente diversos e apareciam em uma surpreendente variedade de tamanhos e formatos bizarros", disse um dos autores do estudo, Javier Ortega-Hernández, do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Cambridge (Reino Unido).

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O novo animal também se parece com a Hallucigenia, um outro verme do Cambriano, que tinha o corpo mole coberto por pares de espinhos na parte de cima e com pernas pegajosas na parte de baixo. A Hallucigenia, descoberta em 1977 no Canadá, só foi descrita completamente na quarta-feira, 24, em um estudo publicado na revista Nature.

"As duas criaturas são lobopodianas - ou vermes com pernas -, mas o Monstro de Collins parece uma Hallucigenia que tomou esteroides. Ele tinha uma armadura muito mais pesada protegendo seu corpo, com até cinco espinhos aguçados para cada par de pernas, enquanto a Hallucigenia só tinha dois", disse Ortega-Hernández.

O fóssil do Monstro de Collins foi encontrado no depósito de Xiaoshiba, um sítio menos explorado que o depósito Chengjiang, próximo dali, mas com espécimes extremamente bem preservados desse importante período da história da Terra.

"Os animais do Cambriano eram incrivelmente diversos, com muitos comportamentos e modos de vida interessantes. O Monstro de Collins foi um desses 'experimentos' evolutivos que fracassaram, não deixando descendentes diretos. Mas é incrível observar como vários animais já eram especializados há centenas de milhões de anos. O estudo de registros fósseis busca respostas sobre a evolução da vida na Terra que só podem ser encontradas no passado profundo", afirmou Ortega-Hernández.

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