Cientistas descobrem paciente contaminado por 3 subtipos do HIV

A descoberta, feita pela equipe do diretor do Laboratório de Retrovirologia da Unifesp, Ricardo Diaz, abre novos caminhos para decifrar a progressão da infecção nos pacientes

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Por Agencia Estado
Atualização:

Pesquisadores brasileiros encontraram, pela primeira vez no mundo, uma pessoa infectada por três subtipos diferentes do HIV. O paciente é acompanhado desde 1994 por uma equipe da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e, até pouco tempo, acreditava-se que ele estava contaminado apenas pelos subtipos B e C do vírus da aids. Nos últimos exames, porém, foi detectada também a presença de outro subtipo, batizado de F. A descoberta, feita pela equipe do diretor do Laboratório de Retrovirologia da Unifesp, Ricardo Diaz, abre novos caminhos para decifrar a progressão da infecção nos pacientes. Além disso, pode modificar os rumos de trabalhos para o desenvolvimento de vacinas. Jorge (nome fictício), a mulher e a filha, são portadores de dois subtipos de HIV há pelo menos seis anos. Exames periódicos dos pacientes indicaram que os dois subtipos de vírus competiam entre si para ter controle do organismo do paciente. Na disputa, levava nítida vantagem o C. No exame de Jorge, quando os índices de carga viral do subtipo B estavam muito reduzidos, e os de C, mais elevados, houve a surpresa: o aparecimento de um novo tipo do vírus, o F. Há duas hipóteses para explicar o aparecimento de mais um agente agressor. A primeira, considerada remota pelo pesquisador, é a ocorrência de um novo contágio. "Estudos recentes indicam ser pequena a probabilidade de organismo infectar-se em duas ocasiões por diferentes tipos de HIV", afirma Diaz. O pesquisador acredita que infecções por mais de um vírus ocorrem simultaneamente ou em um pequeno espaço de tempo. A segunda possibilidade - e a mais provável, na avaliação de Diaz - é que o subtipo F estivesse no organismo de Jorge desde o início da infecção mas somente agora, com a queda acentuada do vírus B é que ele tenha tido condições de proliferar. A vantagem que o tipo C do vírus obteve no caso de Jorge e de sua família já é detectada nas avaliações epidemiológicas. Em todo o mundo, a prevalência desse subtipo de HIV está aumentando. Não há ainda explicações para essa mudança no perfil da infecção. Mas as teses são muitas. "Acredita-se que ele tenha maior vantagem do que os demais subtipos quando o contágio ocorre por via sexual." Além disso, a progressão da infecção pelo subtipo C nos pacientes é mais rápida. "Há um número limitado de células para serem infectadas pelo vírus. Quem for mais rápido, mais eficiente, ganha a disputa." Diaz afirma que os resultados da pesquisa não trazem um panorama muito animador. Hoje são conhecidos HIV do tipo 1 e HIV do tipo 2. Subtipos também estão descritos: vão da letra A até J. No início da epidemia, a maioria dos pacientes estava infectada pelo subtipo B. "Hoje vemos que há maior diversidade de infecções." O que preocupa, no entanto, é que, quanto maior a diversidade genética do HIV, maiores os obstáculos para o desenvolvimento de vacinas. "Elas terão de ser regionalizadas, adequadas ao perfil de cada população", diz. "Mas quanto mais subdivisões houver, maior será a dificuldade em encontrar a fórmula adequada. Pior ainda é quando sabemos que a situação do paciente pode mudar, como ocorreu com Jorge."

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