Cientistas descobrem traços de metano em meteoritos de Marte

Alimento para micróbios, o gás é considerado um sinal de que a vida poderia já ter existido no Planeta Vermelho, segundo estudo

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Por Fabio de Castro
Atualização:

SÃO PAULO - Um grupo internacional de cientistas encontrou traços de metano - uma possível pista da existência de vida primitiva - em meteoritos provenientes de Marte. 

A descoberta, de acordo com os autores do estudo publicado na revista Nature Communications, não prova que a vida exista ou já tenha existido no Planeta Vermelho. Ainda assim, o metano é considerado pelos cientistas "um ingrediente que poderia potencialmente viabilizar uma atividade microbiana em Marte", de acordo com o autor principal do estudo, Nigel Blamey, da Universidade Brock, em Ontário, no Canadá.

Metano foi encontrado no interior de 6 meteoritos de rocha vulcânica que tiveram origem em Marte Foto: Michael Helfenbein

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O metano foi encontrado no interior de seis meteoritos de rocha vulcânica que tiveram origem em Marte. Segundo Blamey, as rochas chegaram à Terra como meteoritos, depois de terem sido lançadas ao espaço por impactos cósmicos que teriam atingido o Planeta Vermelho. 

Ao estudar os meteoritos marcianos, para que não houvesse contaminação com materiais terráqueos, os pesquisadores extraíram do interior de cada deles amostras de cerca de um quarto de grama. Eles encontraram metano nas seis amostras, depois de esmagá-las para extrair os gases e analisá-los com um espectrômetro de massas. Os meteoritos continham gases na mesma proporção e com a mesma composição isotópica da atmosfera marciana.

"A maior surpresa foi encontrar ali uma quantidade tão grande de traços de metano", disse Blamey.

O estudo indica a possibilidade de que o metano tenha sido usado como fonte de alimento de formas rudimentares de vida sob a superfície marciana. Na Terra, micróbios fazem isso em uma ampla gama de ambientes.

"Outros cientistas poderão replicar esses achados usando técnicas e equipamentos de medição alternativos", disse outro dos autores do estudo, Sean McMahon, pós-doutorando do Departamento de Geologia e Geofísica da Universidade de Yale. "Nossa descoberta provavelmente será utilizada por astrobiólogos em modelos e experimentos que tenham o objetivo de compreender se a vida poderia subsistir sob a superfície de Marte." 

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Em 2014, o robô Curiosity, da Nasa, em exploração da superfície marciana, observou picos de emissão de metano no local. A descoberta sugeria que o gás ainda pode estar sendo produzido no interior do planeta.

A superfície de Marte, bombardeada por radiação e com temperaturas de -90ºC, é considerada extremamente hostil à vida. Mas, para os cientistas, esses dados, aliados à nova descoberta, sugerem que existe a possibilidade da presença de micróbios se alimentando de metano no subsolo, como ocorre com algumas bactérias em ambientes extremos da Terra.

A nova descoberta fez parte de um projeto de pesquisa que envolve, além da Universidade Brock e da Universidade do Oeste de Ontário, no Canadá, um grupo de instituições da Escócia: Universidade de Aberdeen, Centro de Pesquisas Ambientais das Universidades Escocesas e Universidade de Glasgow.

De acordo com John Parnell, da Universidade de Aberdeen, um dos mais empolgantes desdobramentos da exploração de Marte tem sido o conjunto de vestígios de metano na superfície do planeta.

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"Missões recentes da Nasa e missões futuras da Agência Espacial Europeia estão procurando por isso. No entanto, ainda não está claro de onde vem o metano encontrado até agora em Marte - e nem mesmo se ele realmente está lá", afirmou Parnell. "Mas nossa pesquisa fornece um forte indício de que rochas marcianas contêm um grande reservatório de metano."

De acordo com McMahon, a equipe continuará analisando meteoritos e que os resultados até agora encontrados poderão ser importantes para futuros experimentos com veículos de exploração do Planeta Vermelho, como o Curiosity.

"Mesmo se o metano marciano não alimentar micróbios diretamente, ele pode sinalizar a presença de um ambiente quente, úmido e quimicamente reativo onde a vida poderia prosperar", declarou McMahon.

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