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Cientistas do Brasil e da China descobrem duas novas espécies de dinossauros saurópodes

Pesquisa é mais um resultado de parceria que já dura 18 anos; descoberta foi feita em província chinesa, em área rica em fósseis

Foto do author Roberta Jansen
Por Roberta Jansen
Atualização:

RIO - Duas novas espécies de dinossauros saurópodes acabam de ser descritas por um grupo de cientistas brasileiros e chineses. O estudo, publicado nesta quinta-feira, 12, na revista Scientific Reports, foi feito a partir de fósseis encontrados na província autônoma de Xinjiang, no noroeste da China. Nessa região, há rochas de 120 milhões de anos.Os “novos” herbívoros de pescoço comprido tinham pelo menos 15 metros de altura.

Ilustração de dinossauros cujos fósseis foram encontrados na China Foto: Maurílio Oliveira/Museu Nacional

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Uma das espécies foi chamada de Silutitan sinensis. O nome da nova espécie é uma combinação da palavra “silu”, que significa Rota da Seda em mandarim, e “titan”, uma alusão aos titãs gregos. Esse termo normalmente usado para saurópodes por causa do seu tamanho avantajado. Foram achadas várias vértebras cervicais médias e posteriores articuladas.

“As vértebras do pescoço desse saurópode apresentam uma série de bifurcações não esperadas, o que indica a presença de outra estrutura, os sacos aéreos, que são prolongamentos do pulmão, mas não se preservam por serem de tecidos moles”, explicou a pesquisadora Kamila Bandeira, especialista em saurópodes do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e uma das autoras do trabalho.

A pesquisadora Kamila Bandeira, do Museu Nacional, ao lado dos fósseis encontrados na China Foto: Kamila Bandeira

“Isso faz com que o animal fique mais ‘pneumático’, digamos assim, traz uma leveza inesperada ao animal que não é tão vagaroso quanto se poderia esperar por conta do tamanho.” O pulmão dos dinossauros, disse Kamila, é similar ao das aves atuais. Em vez dos alvéolos dentro do pulmão, como nos seres humanos, as aves (e os dinossauros) têm sacos aéreos do lado de fora do pulmão.

A segunda espécie, Hamititan xinjiangensis, foi descrita com base em uma sequência de vértebras caudais anteriores articuladas. Elas são típicas de um grupo denominado de Titanosauridae. Costuma ser raro na Ásia e mais comum na América do Sul, inclusive no Brasil. A espécie foi batizada com a junção do nome da localidade, onde os fósseis foram achados, Hami, e, mais uma vez, o termo “titan”.

“Os saurópodes dominaram o mundo durante o Cretáceo”, afirmou Kamila. “Na América do Sul, sua diversidade era absurda; um terço de todas as espécies conhecidas é daqui. Esse novo material é um registro antigo para o grupo, que pode explicar que eles podem ter se diversificado muito antes do que se imaginava, na Ásia.”

Neste mesmo sítio, já haviam sido descobertos vários fósseis do pterossauro Hamipterus tianshanensis. Os achados incluíram ovos e embriões em excelente estágio de preservação. Além do pterossauro, as duas novas espécies de dinossauros são as primeiras de vertebrados relatados nesta região. Essas descobertas aumentam a diversidade da fauna e também trazem mais informações sobre os saurópodes chineses. Apontam ampla diversificação desses animais no período Cretáceo inferior na Ásia.

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“Essas novas espécies de saurópodes são particularmente importantes por serem de uma área onde grandes vertebrados, como dinossauros, não tinham sido registrados até o momento”, afirmou o diretor do Museu Nacional, o paleontólogo Alexander Kellner, um dos responsáveis pelo trabalho. “Isso indica o grande potencial fossilífero desta formação para o estudo não somente de saurópodes, mas também do potencial para outros grupos de dinossauros.”

Além disso, acrescentou Kellner, “a presença de duas espécies diferentes ajuda a entender como pode ter ocorrido a ampla diversificação desses saurópodes no Cretáceo inferior”.

A parceria dos paleontólogos da UFRJ com os pesquisadores chineses do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia já tem 18 anos. O último estudo conta ainda com a participação de paleontólogos do Museu de História Natural de Beijing e do Museu Hami. “Desde 2004, já publicamos mais de 20 trabalhos juntos”, lembrou Kellner. “Estamos mostrando que, apesar do mundo louco em que estamos vivendo, a ciência segue avançando.”

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