Cientistas querem recriar raça extinta de boi gigante

Grupo italiano vai cruzar raças similares ao Auroque, que pesava uma tonelada, para recriar seu DNA

PUBLICIDADE

Por Guilherme Aquino
Atualização:

Cientistas italianos querem criar um animal semelhante ao Auroque, um boi primitivo que media dois metros de altura, pesava quase uma tonelada e tinha chifres de 1,40 metro de comprimento. Essa espécie de boi gigante, o Bos primigenius, também conhecido como Uro, surgiu no norte da Índia há dois milhões de anos. Ela foi declarada extinta em 1627, quando a última fêmea morreu nas florestas da Polônia. Os italianos crêem que, por ser muito resistente a condições adversas como frio, calor e pouca oferta de alimento, o Auroque pode ser muito útil para a humanidade em tempos de aquecimento global. Para "ressuscitar" o animal, os cientistas do Consórcio para a Experimentação, Divulgação e Aplicação de Biotecnologia Inovadora de Benevento, no Sul da Itália, pretendem cruzar três raças de bois similares ao Auroque até chegar a um exemplar com DNA quase igual ao dele. A reconstrução de um DNA As pesquisas com os fósseis do Auroque começaram em 1996. Depois de mapearem seu DNA a partir dos ossos, os cientistas identificaram quais raças atuais de bois mais se assemelham ao ancestral primitivo. Os resultados dessa análise levaram a pesquisadora holandesa Henri Kerkdijk, do instituto Stiching Tauros, que também participa do projeto, a propor o cruzamento entre três raças: a italiana Maremmano Primitivo, a escocesa Scottish Highland e a espanhola Pajuna. Os cientistas italianos estão agora contando os dias para o nascimento do primeiro exemplar gerado a partir do cruzamento das três raças. O bezerro deve nascer em fevereiro, na Holanda. "Vamos reconstituir, passo a passo, a combinação genética do boi primitivo. Esse é um primeiro cruzamento de uma série. Esse animal recém-nascido vai nos dar material para usar em futuros cruzamentos", explicou Donato Matassino, diretor do Consórcio que encabeça o projeto. Origem Depois de surgir na Ásia, o Uro começou a migrar para a Europa 320 mil anos atrás, muito antes da migração humana para a região começar. Mas foi somente há 80 mil anos que o Auroque criou raízes no continente, atraído pelo solo coberto por estepes e pradarias.

 

PUBLICIDADE

A passagem do animal pela Europa também está registrada em pinturas rupestres. As cavernas de Lascaux na França e de Altamira na Espanha trazem desenhos que revelam as características físicas do Uro. As dimensões e os detalhes do boi primitivo também podem ser observados em objetos de civilizações antigas, como a grega e a etrusca.

 Há 8 mil anos, o boi primitivo foi domesticado nas margens do mar Cáspio, no Irã. Ele também se desenvolveria 5 mil anos atrás no norte da África, no vale do rio Nilo, pelas mãos dos egípcios. Animal resistente Os cientistas italianos resolveram ressuscitar o Auroque devido à sua resistência e a sua capacidade de adaptação. Eles dizem que o boi primitivo pode sobreviver em terrenos com oferta pobre de alimentos. Sua crença se baseia no fato de que o Uro superou períodos glaciais e percorreu milhares de quilômetros até se estabelecer na Europa. Hoje, existem raças de gado de criação intensiva que produzem mais leite e carne do que o Auroque. Mas elas exigem pastagens e cuidados muito mais complexos.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.