Cientistas registram 21 tipos de pegadas na 'Jurassic Park da Austrália'

Algumas delas, com cerca de 1,70 metro, são as maiores já localizadas no mundo

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Por Fabio de Castro
Atualização:
Cientistas estudam pegada de saurópodena Peníncula de Dampier Foto: AFP PHOTO / UNIVERSITY OF QUEENSLAND / Steven W. SALISBURY

Uma equipe de cientistas da Austrália registrou 21 tipos de pegadas de dinossauros em uma área de 25 quilômetros - algumas delas, com cerca de 1,70 metro, são as maiores já localizadas no mundo. A descoberta, sem precedentes, foi feita em rochas de 127 milhões a 140 milhões de anos de idade, em uma área de 25 quilômetros da Península Dampier - local do litoral oeste do país que já havia sido apelidado pelos cientistas de “Jurassic Park da Austrália”.

Os cientistas da Universidade de Queensland e da Universidade Cook, ambas da Austrália, tiveram de enfrentar tubarões, crocodilos, marés desfavoráveis e até empreendimentos de infraestrutura para desvendar o mais diverso conjunto de rastros de dinossauros.

As mais de 150 pegadas de dinossauros de 21 tipos diferentes foram localizadas em rochas de 127 milhões a 140 milhões de anos de idade, em uma área de 25 quilômetros da Península Dampier - local do litoral oeste da Austrália que já havia sido apelidado pelos cientistas de "Parque Jurássico da Austrália"; os cientistas tiveram que lidar com marés hostis, tubarões, crocodilos e um empreendimento de mineração. Foto: Steve Salisbury / Universidade Queensland

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Segundo autor principal do estudo, Steve Salisbury, a diversidade dos rastros na região é algo sem paralelo no mundo. "É extremamente significativo, já que formam o primeiro registro de dinossauros não-aviários na metade ocidental do continente, o que nos fornece um olhar de relance da fauna de dinossauros da Austrália na primeira metade do período Cretáceo", disse Salisbury.

Em 2008, o governo do oeste australiano selecionou o local como sítio prioritário para instalação de uma planta de processamento de gás natural de cerca de US$ 30 bilhões. A população tradicional do local, da etnia Goolarabooloo, entrou em contato com Salisbury para avaliar o sítio. Com sua equipe, o cientista realizou de 400 horas de pesquisa de campo, documentando rastros de dinossauros.

Os pesquisadores australianos fizeram moldes das pegadas dos dinossauros, para que fosse possível estudá-las sem o incômodo da subida das marés; mais de 150 pegadas de dinossauros de 21 espécies diferentes foram localizadas. Foto: Steve Salisbury / Universidade Queensland

"Precisávamos que o mundo visse o que estava em jogo", disse o advogado dos Goolarabooloo, Phillip Roe, de acordo com informações divulgadas pela Universidade de Queensland.

Segundo Roe, as trilhas de dinossauros, que se estendem por 400 quilômetros a partir da costa da península, marca o caminho de Marala, um espírito criador da mitologia Goolarabooloo. "Marala era o legislador. Ele deu ao país as regras que precisamos seguir, como nos comportar e como manter as coisas em equilíbrio", disse Roe.

Salisbury afirmou que a disputa política sobre o projeto foi "especialmente intensa" e que ficou aliviado quando o órgão governamental responsável incluiu a área na lista de Patrimônio Nacional, em 2011. O projeto de mineração entrou em colapso em 2013.

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Algumas das pegadas de dinossauros encontradas pelos pesquisadores australianos no noroeste do país são as maiores já encontradas; na foto, ao lado de uma pegada de estegossauro de cerca de 1,70 metro, um dos participantes do estudo, Richard Hunter, um maja - ou guardião da lei - do povoGoolarabooloo, que é a população tradicional da região. Foto: Steve Salisbury / Universidade Queensland

Variedade. "Há milhares de rastros na área. Do total, há 150 que podem ser seguramente classificadas em 21 tipos específicos de pegadas, representando quatro grandes grupos de dinossauros", explicou Salisbury.

"Há cinco diferentes tipos de pegadas de dinossauros predadores, pelo menos seis tipos de rastros de saurópodes - os imensos herbívoros de pescoço longo -, quatro tipos de rastros de ornitópodes - que são herbívoros bípedes - e seis tipo de pegadas de dinossauros encouraçados", disse o cientista.

"Entre as pegadas, encontramos a única evidência confirmada até hoje da presença de estegossauros na Austrália. Encontramos ali também algumas das maiores pegadas de dinossauros já registradas. Algumas das pegadas de saurópodes têm cerca de 1,7 metro de comprimento", afirmou Salisbury.

O cientista explicou que a maior parte dos fósseis de dinossauros encontrados na Austrália estão na parte oriental do continente - e têm de 115 milhões a 90 milhões de anos. "Essas pegadas que encontramos agora são consideravelmente mais antigas", declarou.

O estudo foi publicado no Memorial da Sociedade de Paleontologia de Vertebrados de 2016.

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