Cientistas repudiam carta da CNBB sobre embriões

Pesquisadores que lutam pelo uso de células-tronco embrionárias dizem que Igreja pode impedir cura de doenças

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Por Agencia Estado
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Cientistas brasileiros repudiaram a carta ao Senado enviada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na sexta-feira, pedindo veto ao uso de células-tronco de embriões humanos. O presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, Volnei Garrafa, disse que a interferância da Igreja pode impedir pesquisas importantes com uso de embriões abandonados em clínicas de reprodução assistida, que serão jogados no lixo de qualquer forma. "Essa é uma clara intromissão da Igreja no Estado e, lamentavelmente, o Congresso costuma se agachar frente a essas pressões", disse o professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) à Agência Brasil. "O Estado brasileiro é pluralista. Não pode uma religião, por mais importante que seja, interferir nas visões morais da sociedade como um todo." A CNBB defendeu, na carta aos senadores, todas as pesquisas com células-tronco adultas - da medula e do cordão umbilical, por exemplo -, mas se posicionou terminantemente contra o uso de células-tronco de embriões, por considerá-los seres vivos. O Senado deve decidir essa questão ao votar a Lei de Biossegurança. Direito de pesquisar "Ninguém está prometendo uma cura. Estamos pedindo o direito de pesquisar", disse a geneticista Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo (USP), em resposta à acusação da CNBB a "vendedores de ilusões de vida fácil". Para os cientistas, há um longo caminho entre as pesquisas e a esperada cura de doenças como Parkinson, diabetes e Alzheimer. Há pesquisas com células-tronco adultas, mas são as embrionárias que prometem maior possibilidade de cura a doenças graves, porque têm maior possibilidade de se multiplicar como as células necessárias aos doentes - neurônios, células do sangue e musculares, por exemplo. Nos países onde é permitido, são usados blastocistos, estágio em que os embriões são aglomerados de poucas células. "Não estamos diante de uma questão técnica, mas moral. Hoje, não discutimos mais o que podemos fazer, mas o que devemos", explica Garrafa. "É preciso, no entanto, de um regulamentação muito consistente, onde esteja previsto, por exemplo, o cadastramento dos centros de pesquisa que irão trabalhar nessa área." A Lei de Biossegurança, aprovada na Câmara em fevereiro, vetou o uso de células de embriões humanos. A comunidade científica criticou o texto da lei, apontando erros básicos e confusões de conceitos. No Senado, os cientistas vêm tentando esclarecer os parlamentares sobre como seriam as pesquisas.

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