Cientistas temem que medo do terror prejudique conhecimento

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Por Agencia Estado
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Uma coincidência, que se tornou mais explícita a partir dos atentados terroristas contra as torres gêmeas no World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, começa a preocupar a comunidade científica internacional, com reflexos na brasileira. As áreas de pesquisas que tornam possíveis as armas de destruição em massa, como microorganismos letais ou mísseis, também podem levar ao desenvolvimento de tecnologias "do bem", como novos remédios ou foguetes para lançar satélites para empregos civis. Com isso, muitos países querem controlar essas áreas de pesquisa. Essa preocupação foi expressa nesta terça-feira, no simpósio Cerceamento à Ciência e Segurança Internacional, na 56.ª Reunião Anual da SBPC. Segundo os palestrantes, os países desenvolvidos, com Estados Unidos à frente, começam aumentar os controles sobre as chamadas áreas sensíveis da ciência. "O mesmo equipamento, um fermentador, por exemplo, pode ser usado para produção de vacinas ou para cultivar colônias de antraz", explicou o pesquisador Roque Monteleone, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "O que preocupa, no entanto, é que eles não querem mais se limitar a controlar coisas concretas. Muitos países começam a tentar controlar coisas intangíveis, como o conhecimento." Ele dá exemplos. "Em muitos países já querem saber que livro um pesquisador vai tornar disponível para seus alunos", disse. "Ou então, que artigo vai publicar e com qual conteúdo. Ou ainda saber quais instituições vão receber estudantes estrangeiros e o que será ensinado a eles." Monteolone sofreu ele próprio com essa nova posturas de alguns países. "Quis comprar um software de informações biológicas, mas o vendedor disse que seu país, que não posso revelar, não permitia sua venda para o Brasil", contou. "Isso é um entrave às pesquisas. O controle passa a impedir o desenvolvimentos científico, tecnológicos e econômico de muitos países, como o Brasil, que lutam para crescer."

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