Cirurgia inédita salva criança que nasceu sem diafragma em Sorocaba

A técnica permitiu a implantação de um músculo cardíaco bovino para a reconstituição do diafragma em casos de agensia.

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Por Agencia Estado
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A garotinha Vitória Maria Ferraz, de Sorocaba, completou 9 meses de idade como um caso raro na medicina. Ela é a primeira criança a ter o diafragma, membrana que separa o tórax do abdome, feito com pericárdio bovino, a capa que envolve o coração de boi. A cirurgia experimental, realizada pelo médico Willy Marcus Gomes França no hospital Unimed, em Sorocaba, foi apresentada em um congresso mundial de medicina, realizado em Viena, no fim do mês passado, e será relatada em revistas científicas. A técnica pode ser adotada oficialmente. O pericárdio bovino é largamente empregado em cirurgias do coração, mas nunca tinha sido usado para a recuperação do diafragma. A menina nasceu com agenesia diafragmátrica, como é chamada a ausência total do diafragma, um caso raro na medicina. Representa um terço dos casos de hérnia diafragmática (buracos no músculo) que atinge um em cada 5 mil recém-nascidos, segundo o médico. "A literatura recente não registra casos de sobrevivente", conta. Sem o diafragma, em razão da posição do feto na barriga a mãe, o abdome invade o tórax, impedindo o desenvolvimento de órgãos como os pulmões. A ausência do músculo que permite a respiração foi diagnosticada quando Vitória era um feto de seis meses. A mãe, Daniele Ferraz, foi alertada sobre a quase nenhuma chance de sobrevivência e pediu aos médicos que tentassem tudo o que fosse possível. Segundo França, logo após o parto foi feita uma cirurgia para inserção de uma lâmina de silicone no lugar onde deveria estar o diafragma. Esse tipo de material tem de ser trocado à medida que a criança cresce e geralmente o paciente não resiste. Ele conversou com cardiologistas, habituados ao uso do pericárdio bovino, antes de optar por essa solução. A cirurgia definitiva foi feita quando ela estava com 4 meses de idade. Segundo o médico, antes foi preciso recuperar o pulmão da paciente, atrofiado em razão da fala do diafragma. A peça de pericárdio bovino foi bem aceita pelo organismo. O pulmão recuperado desenvolveu-se normalmente. A menina resistiu também a uma enterocolite grave, não relacionada com o caso, mas que exigiu outra cirurgia. "Vitória é um bebê e saudável, que só tem a cicatriz como marca do seu problema", disse o médico. A nova aplicação dop ericárdio bovino foi apresentada no congresso brasileiro de cirurgia pediátrica, realizado em Goiás, e chamou a atenção dos médicos estrangeiros. Eles se incumbiram de levar o caso ao congresso de Viena.

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