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Clonagem ainda é difícil e caríssima

Para fazer o clone mais famoso do mundo, a ovelha Dolly, foi necessário manipular 277 embriões, dos quais 29 sobreviveram e foram implantados em mães de aluguel. Só Dolly vingou

Por Agencia Estado
Atualização:

A palestra de Lygia da Veiga Pereira, ?Clonagem, Fatos e Mitos? conseguiu uma proeza nesta 54º reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC): lotou um auditório com capacidade para 500 lugares, com muitas pessoas sentadas no chão. Isso mesmo sem apresentar fatos ou teorias novos, simplesmente expondo vantagens e problemas dos dois tipos de clonagem, terapêutica ou para fins reprodutivos. Outras discussões, que de alguma forma estão mais perto da realidade dos estudantes e dos cientistas, ou pelo menos mexem no bolso deles, como ?O desafio do empreendedorismo na universidade? atraíram interesse menor. Na última, havia menos de 30 pessoas na platéia. A técnica da clonagem pode ser interessante para casais que não conseguem ter filhos, diz Lygia, mas seu estágio de desenvolvimento não indica sua utilização em seres humanos. Para fazer o clone mais famoso do mundo, a ovelha Dolly, foi necessário manipular 277 embriões, dos quais 29 sobreviveram e foram implantados em mães de aluguel. Só Dolly vingou. Esses números são argumento suficiente contra a aplicação da técnica em seres humanos. ?É um preço altíssimo, inaceitável, para se pagar por um ser humano?, afirma a professora da Universidade de São Paulo (USP). Sem contar que não se sabe ainda como os animais clonados sobrevivem a longo prazo. A maioria é obesa. A própria Dolly sofre de reumatismo. No ano que vem, a Organização das Nações Unidas (ONU) deve fazer uma convenção internacional pedindo o banimento da clonagem humana com fins reprodutivos, de acordo com Lygia. Por si só essa moção deve desestimular qualquer tentativa científica nesse sentido, já que será difícil para um pesquisador conseguir financiamento, tendo o veto da ONU como pano de fundo. Tanto no meio científico quanto no empresarial, existe consenso de que clonagem como forma de reprodução em humanos não deve ser realizada. ?Ninguém quer fazer isso. Só, é claro, o marginal do momento, o médico (Severino) Antinori?, afirma Lygia. ?Como forma de reprodução não existe mercado nenhum para isso. Vai ter só o mercado do charlatão.? Já a indústria farmacêutica está extremamente interessada no uso da clonagem como forma de terapia, segundo a professora. Através da clonagem, estima-se que seja possível criar células que reparem um músculo cardíaco, no caso de enfarte, ou que reponham neurônios em pacientes com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. Ou que se faça um fígado novo para quem sofre de hepatite, com a vantagem de não criar problemas de rejeição. Várias empresas de biotecnologia, fora do Brasil, estão investindo nas pesquisas com células-tronco, que podem dar origem a diferentes tipos de tecido. ?Sou absolutamente a favor disso. A clonagem terapêutica tem o potencial de revolucionar a medicina?, disse a professora durante entrevista. Porém, até que isso se torne rotina, serão cinco ou dez anos. No Brasil, as pesquisa estão restritas à universidade. Mas começam a surgir bancos de cordão umbilical, que é rico em células-tronco. Não se sabe ainda, no entanto, se servirão para algo realmente, já que sua utilização depende do futuro da pesquisa e, também, da relação custo/benefício para guardar por anos um cordão que pode nunca ser necessário.

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